Ivo trabalha no terminal de cargas do aeroporto do Porto há 14 anos. Mas houve uma altura em que sentiu que "estava na hora de mudar", explica ao SAPO24: "quando estamos há muitos anos no mesmo sítio e não vemos grande progressão, está mais que na hora de mudarmos e quando mudamos, mudamos sempre para uma coisa que gostamos mais".

Ivo, 41 anos, do aeroporto para a programação

No caso de Ivo, aquilo de que gostava mais era de informática. Diz ter estado sempre muito ligado a essa área, inclusive, há 21 anos, chegou a fazer um curso tecnológico de informática como equivalência ao 12º ano. Mas, "na altura, houve um ponto de viragem na minha vida e tive que decidir se ia para a universidade ou se ia trabalhar". Chegou a entrar na Universidade em Engenharia Informática e Electrónica, mas"gostava muito da informática e pouco da electrónica. Além disso, era muito difícil coordenar os horários rotativos". Deixa esta nota como quem viaja ao passado para questionar, e se tivesse continuado?

Não podendo voltar atrás no tempo, foi em adulto que decidiu responder a essa pergunta.  "Vi uma notícia num jornal online sobre a abertura de uma escola de programação em que os horários eram livres, acho que se fez luz".

A escola 42 surgiu como a resposta que Ivo procurava sem ter feito nenhuma pergunta. Não teve dúvidas e concorreu na hora. "Não conseguia conciliar a universidade com o ensino normal e vi ali uma oportunidade." A 42 permite que se faça o curso num part time de 40 horas, ou num full time de 20 horas.

Confessa ter ficado emocionado quando soube que entrou no programa. A mensagem com a boa nova seria o início da sua nova vida, "senti que estava a conseguir dar os primeiros passos". Mas o processo de recrutamento não ficava por ali: "recebi o email a dizer que tinha passado e que devia comparecer na escola - acho que em julho ou junho - e explicaram que tínhamos que nos inscrever para uma das piscine que iriam acontecer até ao final do ano". Traduz, "a piscine é outro método de seleção, num período de 26 dias estamos completamente imersos nos estudos, completamente autodidatas, eles dão-nos uma série de exercícios, todas as semanas temos um teste, são quatro semanas com quatro exames".

Lembra esses primeiros tempos como "um período bastante exaustivo. Eu fazia os turnos rotativos, mas tentava passar o máximo de horas possíveis lá." Agora, assegura, "tem sido mais fácil conciliar, ali dávamos tudo por tudo porque ainda estávamos numa fase de seleção".

Ivo está agora a meio do curso e, para o futuro, a palavra de ordem é esperança. Falta-lhe a fase dos estágios, mas, pelo que tem visto, "as empresas que patrocinam a 42, dão uma certa esperança aos alunos, acredito que há facilidade de integração". Contudo, aos 41 anos, prefere ser cauteloso, "estou numa idade em que já não estou muito de aventuras, gosto de trocar o certo pelo certo, o certo pelo incerto já não me agrada muito". Mas a esperança e a paixão falam mais alto, "acho que em termos de salários é mais aliciante que o meu trabalho atual, se tiver uma boa proposta, vou arriscar, até porque vou fazer uma coisa que realmente eu gosto".

Se programar é realmente uma coisa que gostam e se há entusiasmo de querer aprender informática devem arriscar.

Ivo, aluno da escola 42

Antes de desligar a chamada com o SAPO24, deixa um conselho a possíveis interessados: "a programação não é assim tão difícil. Há coisas na escola, no ensino normal, que são muito mais complicadas. Não é assim tão difícil, até é bastante atrativo e hoje a tecnologia faz parte de tudo". Mas o interlocutor é, acima de tudo, quem, como ele, não tem nem tempo nem vida largar tudo e arriscar, "a 42 está aberta 24 horas por dia, posso dirigir-me à escola em qualquer momento. Se realmente é uma coisa que gostam e se há entusiasmo de querer aprender informática, devem arriscar".

Vitória, da floricultura para a programação

Também Vitória procurava progressão e uma profissão que a realizasse. Natural de Goiânia, no Brasil, há sete anos veio para Portugal e, se o plano inicial tivesse corrido bem, por esta altura seria engenheira. Conta, ao SAPO24, que o 12º já foi feito em Portugal, e que no fim pediu um empréstimo para estudar engenharia aeronáutica, que ia pagando com um trabalho na Câmara de Oeiras e no apoio ao cliente do Home Sweet Sushi. Mas, no segundo ano do curso, a pandemia mete-se entre si e os seus planos. É nessa altura que desiste dos estudos e se apercebe que já nem sabia bem o que queria, mas a necessidade de dinheiro rápido para pagar o empréstimo e ajudar os pais não lhe permitia explorar grandes possibilidades.

É então que se lembra que a floricultura e as entregas eram das poucas indústrias que não tinham fechado durante a pandemia. Dedica-se a ambas, mas "depois de uns 6 meses percebi que precisava de uma coisa que me fizesse subir na carreira. Com esse trabalho não ia conseguir pagar a faculdade e ajudar os meus pais".

Em sete anos é a primeira vez na vida que eu tenho a certeza de quanto dinheiro eu vou receber no final do mês
Vitória, aluna Ironhack

Foi uma simples pesquisa na internet por 'forma rápida de subir na carreira e ganhar dinheiro', que lhe mostrou a Ironhack. Nesse dia não podia prever o que hoje diz, respirando fundo: "em sete anos é a primeira vez na vida que eu tenho a certeza de quanto dinheiro eu vou receber no final do mês."

Na verdade, esta não foi a primeira vez que Vitória se cruzava com um bootcamp de programação. "Um amigo tinha-me enviado uma challenge de cinco dias, era um pequeno bootcamp numa escola de Amesterdão. Participei nesses cinco dias, gostei, fiquei interessada, mas era uma coisa muito curtinha".

Nesta nova pesquisa que fez, foi mais longe e tentou descobrir escolas com bootcamps em Lisboa e com maior duração. "Gostei muito da Ironhack e o fator decisivo foi mesmo a minha entrevista. A pessoa que me entrevistou passou boa energia e a maneira como ela tratou do assunto foi tão calorosa, tão amigável que as outras escolas se tornaram mais distantes". Ainda que escolas diferentes, tal como Ivo, refere que também esta escola "não parecia escola".

Desde essa conversa foram dois meses até estar a estudar programação e ver para si um novo futuro. "Eu não tinha dinheiro para pagar o curso, foi financiado pela Fundação Jorge Neves, primeiro candidatei-me à fundação. No final de novembro fiz a pesquisa e no início de janeiro já estava no bootcamp".

O fator rapidez surpreendeu-a particularmente, mas não via ali a sua salvação. "Eu nunca tinha feito uma linha de código. Já nem me lembrava do curso de cinco dias que tinha feito no início do ano. Não fui com expectativa nenhuma, estava ali para aprender, mas se não desse certo, tudo bem, também não cobrei nada e para mim foi muito bom."

Tão bom que garante que esta foi "a melhor experiência que tive em Portugal. Desde as pessoas... tudo. É muito impactante, porque se está ali nove semanas todos os dias. Praticamente vive-se na escola, enquanto se aprende e trabalha em equipa. Em nenhum momento eu senti pressão com as aulas ou com o que tinha a fazer. Porque se tivesse alguma dúvida, além do professor, tinha  mais dois professores assistentes durante a aula."

Nesta empresa onde estou, se quiser até me pagam o curso. Mas eu não vejo necessidade nisso. Só para ter um diploma? O meu tempo é muito valioso para o desperdiçar assim

No percurso na escola, os dois anos em engenharia não ajudaram, mas durante as entrevistas confessa que foi uma mais valia. "Ainda há o preconceito das empresas de quererem pessoas com uma licenciatura. Então, apesar de eu não ter terminado, dizia que tinha feito dois anos". Agora, com uma vida mais estável, questionada se está nos seus planos acabar o curso, afasta a ideia. "Nesta empresa onde estou, se quiser, até me pagam o curso para o terminar. Mas eu não vejo necessidade nisso. Só para ter um diploma? O meu tempo é muito valioso para o desperdiçar assim." Contudo, voltar à faculdade é uma hipótese, mas para outros horizontes. "No futuro, eu gostava de estudar filosofia ou psicologia porque é algo que eu gosto, mas não seria para trabalho. Seria mesmo porque eu gosto e queria saber mais sobre isso."

E, falando em futuro, afirma com certeza "pela autonomia, pela autonomia e pela liberdade que tenho queria programar por muitos anos. Talvez abra um negócio quando ficar mais velha, mas ainda penso ficar aqui nos próximos 20 ou 30 anos. É muita liberdade de tempo e de tudo, a balança entre trabalho e vida pessoal é muito positiva".

Fábio e Pedro, da Academia do Código para a programação

A história de Fábio e de Pedro cruza-se com a Academia de Código - e ambos afirmam que para os salvar. Pedro tinha um sonho, Fábio não sabia o que queria, os dois viveram duras passagens pelo hospital, e foi no código que redescobriram a paixão.

Aos 24 anos, com o 12º ano, Fábio saltitava de trabalho precário em trabalho precário quando um acidente de mota deixou-o numa cama de hospital com a possibilidade de ter que amputar uma perna. Estava a recibos verdes e não conseguia imaginar forma de voltar aos trabalhos que tinha tido até aí, se não pudesse voltar a andar. Agora olha para trás e lembra-se que "ter conseguido dar a volta por cima passou por não me focar no problema, mas sim na solução".  "O tempo que estava a pensar no problema, não estava a pensar na solução e não queria focar-me no problema, mas sim resolvê-lo. Então fiquei a pensar nas coisas positivas e como contornar aquilo que me estava a acontecer".

Teve alta só quatro anos mais tarde e depois, de ter conseguido salvar as duas pernas e de ter passado "bastante tempo a pensar",  foi fazer uma formação de barbeiro. Quando finalmente tem a sua própria barbearia "com algum sucesso", a pandemia atravessa-se no seu caminho, tal como fez com o de Verónica e há-de fazer com o de Pedro. E não é só aqui que a história de Fábio e de Verónica se cruza, também Fábio foi trabalhar para um sítio que não fechou durante essa época: o hospital, como auxiliar de saúde numa ala Covid. Enquanto o mundo começa a normalizar, ainda passaoupor uma fábrica de vidro, até ser convidado para ir gerir uma barbearia.

Comprei um livro em inglês e comecei a ler nas minhas pausas de hora de almoço. Comecei também a ver filmes com legendas em inglês, as músicas com legendas em inglês
Fábio, aluno da Academia do Código

Mas aí, já tinha percebido que essa era uma profissão instável. E, tal como Verónica, procura "profissões com futuro" na internet. Quanto mais descobria acerca da Academia de Código, mais se convencia que o seu caminho tinha que passar por lá.

Descobre a Academia de Código na mesma altura em que sabe que ia ser pai, mas isso não o demoveu, pelo contrário. Depois de saber o que implicava a candidatura e o processo de seleção,  não avança e vai trabalhar para a construção civil durante um ano. Falar inglês era essencial e foi nas obras que Fábio o aprendeu. "Comprei um livro em inglês e comecei a ler nas minhas pausas de hora de almoço. Comecei também a ver filmes com legendas em inglês, as músicas com legendas em inglês".

Coincidentemente, foi a seguir ao filho ter nascido que entrou na escola: "comecei a fazer o bootcamp e o meu filho tinha um mês". Questionado acerca do seu conhecimento informático nesta fase, diz que tinha tido "algum contacto, muito pouco, na escola, mas nunca me passou pela cabeça que a minha vida pudesse passar por ali." Mas a motivação é um combustível muito forte, "queria muito mudar de vida, e mudanças para mim nunca foram um problema, nunca me neguei a nada.".

Tal como Ivo e Vitória, Fábio foca-se na intensidade do bootcamp e, assim como eles, acredita ter escolhido a escola ideal para si e para o seu feitio. "A Academia de Código foi boa para aprender a programar, mas também para lidar com certas circunstâncias da vida. Sempre fui uma pessoa positiva, mas ajudou a aprender a lidar com certas frustrações. Ajudou-me como programador, mas também me desenvolveu soft skills".

Fábio já acabou o curso e, agora, "a barbearia "virou um hobby, corto um cabelo outro. Mas redescobri-me na programação. Não me vejo a fazer outra coisa, a não ser aquilo que estou a fazer agora. E isso nunca tinha acontecido."

Para o futuro ainda tem um sonho, "um dia gostava de ensinar na Academia de Código. Gostava de poder ajudar pessoas como a Academia me ajudou a mim. Estamos ali muitas pessoas a trabalhar para o mesmo, aprendemos a trabalhar em equipa."

Pedro teve a carreira na dança que a maioria dos dançarinos almeja, mas só durou 10 anos porque "a anca cedeu". Tinha, sem saber, displasia da anca e o diagnóstico "foi um choque". Tudo começou em julho de 2019 "ouvi segundas opiniões e todas diziam o mesmo"; teria que ser operado e até ser operado não podia dançar mais.

Só conseguiu marcar uma operação para dia 20 de março de 2020 e durante esse ano "à espera" conseguiu dar aulas, mas "com a Covid-19 a operação foi cancelada, "Fui operado no privado e, por acaso, consegui uma vaga para dezembro. Aí ainda estava esperançoso, a recuperação era de seis meses a um ano. Havia muita esperança e a negação da possibilidade não voltar a dançar", resume.

Pedro afastava com todas as forças a ideia de que não voltaria a dançar. Mas "estava tudo a correr bem,  - até que deixou de correr. Já tinham passados seis meses e eu não melhorava, a meio de 2021, estava com uma depressão gigante. E a lidar com o facto de começar a deparar-me com uma perda gigante na minha vida".

Pedro diz mesmo que essa foi a pior fase de todo este processo. "Estava sempre com dor porque o meu corpo estava a rejeitar os parafusos".

E é quando recebe a notícia que teria que ser operado outra vez, que "o mundo desmoronou. Não ia conseguir estar mais um ano parado... financeiramente já estava a ser muito difícil. Fui operado pela segunda vez, e foi nesse período entre saber que tinha que ser operado e ser operado que tive que pensar muito no que ia fazer da minha vida".

Na altura, escolhe cortar completamente com tudo o que envolvia o mundo da dança. "Sempre que ouvia falar de dança, ou ver dança, entrava em desespero total. Estava mesmo magoado com o ter que deixar toda a vida que construí ate aos 25 anos. Estava a viver o sonho e ia ter que começar do zero... Então foi o embate total de não querer dançar mais, não querer dar aulas, não querer ver dança. Hoje em dia já não e assim, mas na altura precisei de cortar relações com a dança".

Não havia plano b e deve a programação a um amigo programador que tirou o curso no Instituto Superior Técnico. "A minha vida era dançar, embora já gostasse de computadores e mundo geek", mas durante "uma conversa normal sobre computadores, coisas geeks e jogos de tabuleiro, ele, de repente, pergunta-me se eu ja tinha pensado em programar".

A estupefação foi grande. "Pensei que estava a gozar comigo. Porque ele tem um curso superior, é do Técnico - a escola dos engenheiros e das matemáticas -, é super inteligente", interrompe o raciocínio, para explicar, "não é que eu não fosse inteligente, ou bom a matemática, mas a minha matemática era do 9º ano. E, para mim, isso nunca foi nem sequer uma hipótese, até que ele me começou a falar dos bootcamps e dos cursos online, lá fui fazer a pesquisa muito desconfiado".

A primeira conversa com o amigo sobre este tema aconteceu depois da primeira cirurgia, Pedro ainda passa no curso de admissão, "mas como achava que não precisava de plano b deixei aquilo de parte". Já com a notícia da segunda cirurgia, o amigo de Pedro insiste, e Pedro é forçado a "levar aquilo mais a sério", em dezembro de 2021 faz outra vez a admissão e em janeiro de 2022 entra na Academia de Código.

Em comum aos testemunhos dos colegas das outras escolas, Pedro tem o facto de não saber programar e o apreço pelo curso ser intensivo. Para Pedro, a Academia de Código foi um casamento perfeito, "o ambiente é super engraçado, não estava nada à espera de ser tão relaxado, é um ambiente muito informal. Pensei que ia entrar para um mundo muito corporate e a Academia de Código é exactamente o oposto".

A nova vida de Pedro revelou-se "tudo o que estava a precisar", e reconhece que "tornou a transição muito mais fácil e prazeirosa. Era um ambiente seguro, onde não estava a ser julgado por ninguém, havia muitos colegas a passar por uma mudança de vida, fosse mais fácil ou mais difícil".

Problem solving parece uma coisa muito banal, mas na programação é como jogar sudoku, é preciso seguir umas regras e criar qualquer coisa nova
Pedro, aluno da Academia do Código

E exemplifica como a união e empatia começaram desde início, "no primeiro dia contei a minha historia, e começaram a chamar-me Shakira porque as minhas ancas não mexem e já não têm parafusos".

Sobre as diferenças entre a vida passada e a atual, Pedro assegura que o fator criativo se mantém. "Por muito estranho que pareça é preciso ser muito criativo em programação. Problem solving parece uma coisa muito banal, mas na programação é como jogar sudoku, é preciso seguir umas regras e criar qualquer coisa nova." O tom de Pedro muda, sente-se um brilho na voz, "foi isso que me fez apaixonar. Consigo ser criativo à mesma, consigo criar o que eu quiser, para a aplicação que quiser com uma linguagem, um conjuntinho de palavras que se juntar de uma determinada maneira dá resultados diferentes e muito 'fixes'. Tenho muita liberdade naquilo que quero fazer".

E resume, "hoje a programação é um amor que tem vindo a crescer bastante, quanto mais informação adquiro, mais fascinado fico pelo gigante que é este mundo. Há um nicho para qualquer pessoa, é um mundo gigante que eu adoro". Voltou a afastar planos b "agora acho que é programação até ao fim".

Rodrigo, do surf para a programação

Rodrigo é o mais novo do grupo com quem o SAPO24 conversou, mas aos 26 esta é já a segunda vez que muda de vida. Diz que a escola 42 lhe permitiu mais do que a programação, reapaixonar-se pela sua paixão, o surf.

Começa por contar que no "secundário estava um bocado perdido". Se por um lado, a mãe insistia com a universidade, por outro Rodrigo só pensava em surf. Tentou acomodar as duas vontades e "como não sabia o queria inscrevi-me nas faculdades ao pé do mar". Acabou por entrar em Gestão Hoteleira, em Peniche, e na altura "só queria ir para o pé do mar para surfar, nem pensava que pudesse trabalhar na área do surf".

Não gostou da experiência da faculdade, achou pouco desafiante, "qualquer pessoa que saiba ler consegue fazer as cadeiras. Eu quase nunca ia às aulas, as únicas que ia era a matemática e contabilidade, coisas assim mais interessantes, as outras fazia por exame e usava esse tempo para fazer surf e dar aulas de surf".

O desencanto pelo mundo que tinha escolhido como profissão não se ficou pelos estudos, "quando acabei o curso fiz um estágio num hotel, era assistente da direção de food & beverage. O que eu reparei é que para trabalhar ,e para subir na carreira, na parte de gestão hoteleira é muito retrógada e mal paga". Olhou para as opções que tinha à sua frente e a decisão pareceu-lhe óbvia, "não vou estar a trabalhar 10 anos na hotelaria, enquanto posso estar a dar aulas de surf e em seis meses receber o mesmo que o director de um hotel."

Naquele tempo acreditou que tinha o melhor dos dois mundos, podia trabalhar naquilo que era a sua paixão. E aproveitou bem os quatro anos em que deu aulas de surf, "fiz imensos contactos, trabalhei para uma empresa francesa, cheguei a ir para a Indonésia, para Marrocos. E houve uma altura em que fui para a Áustria trabalhar através de um desses contactos. Era barman e dava aulas de snowboard. Então, basicamente, no verão dava aulas de surf, e no inverno ia para as montanhas. Tive oportunidade de aprender alemão e francês".

Foi nestes sítios, e através destes contactos, que lhe foi incutido o bichinho da programação "porque às vezes ficava farto de dar aulas de surf. Era a minha paixão, mas queria que fosse o meu hobby". A programação não sendo um caminho óbvio, era natural "eu sempre gostei muito de matemática e fui curioso. Fazia muitas perguntas gostava de perceber a lógica por trás das coisas, as minhas disciplinas preferidas eram matemática e filosofia. Foi um bocado a partir daí que segui a  programação, porque é isso raciocínio e lógica".

Só gostava de ter descoberto isto mais cedo porque a curiosidade e querer saber o porquê das coisas era o que me punha em sarilhos na escola e, nesta área, é a melhor coisa que se pode ter, saber como as coisas funcionam e não decorar nada.

Rodrigo, aluno da escola 42

Na fase de seleção "de certeza que não era o mais inteligente, mas era o mais curioso. Nos primeiros três exames nem passei, só passei depois de andar a chatear toda a gente para me explicarem". Neste momento já fez o curso geral e começou a trabalhar em robótica na Capgemini, a desenvolver robots.

E garante que não se sente aprisionado por ter deixado de trabalhar ao ar livre, "eu não estou muito tempo à frente do computador, eu estou a discutir com colegas e a encontrar soluções. Depois há vantagem do teletrabalho, posso programar de manhã, à tarde, e à hora de almoço vou surfar".

Essa, garante, é a grande vantagem da programação, "agora tenho mais gosto por surfar e por trabalhar. Porque estou a ser desafiado de outra forma, só gostava de ter descoberto isto mais cedo porque a curiosidade e querer saber o porquê das coisas era o que me punha em sarilhos na escola e, nesta área, é a melhor coisa que se pode ter, saber como as coisas funcionam e não decorar nada."