Parece-me que os deputados têm alguma dificuldade com a tecnologia: não sabem registar as presenças na Assembleia da República; partilham passwords porque não sabem como partilhar ficheiros porque, ao que parece, os computadores já não têm entrada de disquetes. Eu percebo, se a minha mãe fosse deputada, teria as mesmas dúvidas. Deixo, por isso, uma espécie de guia tecnológico para políticos totós:

- Bloquear o ecrã do computador sempre que saem para ir fumar um cigarro ou ir ao WC. Uma competência antiga que adquiri quando era consultor informático, já que sempre que me ausentava e deixava o computador desbloqueado, quando regressava tinha assumido a minha suposta homossexualidade no Facebook ou, muito pior, tinha como fundo do ambiente de trabalho o símbolo do Benfica. Os deputados têm de ter cuidado com isto, pois já estou a ver alguém do PSD a voltar ao lugar e ter o símbolo do PS como screen saver; ou o deputado do PAN ir num instante almoçar tofu e alguém fazer-lhe facejacking e publicar a fotografia de um leitão com a legenda “Adoro cadáver de porquinho bebé com pele estaladiça”. Quer dizer, pode não servir de muito já que todos partilham passwords uns dos outros, é verdade.

- Partilhar ficheiros. Um dos problemas que gerou toda a confusão, já que os deputados dizem partilhar passwords para conseguirem ir aos computadores uns dos outros ver ficheiros relacionados com o seu trabalho. Não sabiam que fazer login no computador do colega fazia com que a sua presença ficasse registada automaticamente. Para evitar estas aldrabices do sistema “sem querer”, aconselho o Dropbox ou do Google Drive, plataformas de partilha de ficheiros, gratuitas, através da cloud. Bem sei que muitos deputados não saberão o que é a cloud, mas podem ir pesquisar ao Bing. Podem, se preferirem, utilizar um disco externo ou uma pen. Parece magia, eu sei, mas a tecnologia tem evoluído muito nos últimos anos.

- Cuidado com os emails. António Mexia e Manuel Pinho foram apanhados em emails comprometedores. É preciso ter cuidado e mais vale utilizar o WhatsApp para mensagens sensíveis, já que o sistema de encriptação e segurança é melhor. Sim, se falarem de hemorroidas a seguir vão ver anúncios de cremes no Facebook, mas é o preço a pagar pela “segurança” dos nossos dados. No entanto, sugiro que para efeitos de corrupção, utilizem o Snapchat pois todas as provas se autodestroem passadas 24 horas. Até a juventude sabe que enviar fotografias da pila e das mamocas é no Snapchat que é mais seguro. Fossem os políticos adolescentes de 15 anos e não haveria provas que os incriminassem.

- Usar o LinkedIn para o CV. É sabido que os políticos se enganam muitas vezes a fazer o currículo. Muitos lapsos, mestrados e licenciaturas fantasmas, entre outros esquecimentos e acrescentos que são legítimos numa profissão feita de tantos favores que já não sabem bem às quantas andam. Por isso, sugiro que utilizem o LinkedIn para facilitar a correcção, não há necessidade de andar a fazer em formato Europass e imprimir para depois ter de corrigir e imprimir outra vez. Os políticos devem ser os primeiros a dar o exemplo e não desperdiçar papel.

- Ver pornografia na Assembleia sempre no modo incógnito. Utilizar sempre o modo incógnito do browser de Internet para aquele momento de descontração pós-almoço em que se faz a digestão do arroz de marisco da cantina. Porquê? Para que o histórico não fique registado e quando, mais tarde, inserirem um endereço na barra do browser que comece por “Por” como “porfalarnoutracoisa.sapo.pt” ou “portaldasfinancas.gov.pt” não vos apareça, como primeira sugestão, o Pornhub. Isso e porque, se por acaso, forem ao Pornhub sem querer, ele não vos mostre sugestões baseadas nas últimas visitas, ao estilo “Se gostou de milfs anãs anal socialistas, poderá gostar destes vídeos”.

Em relação às falsas presenças registadas por colega de bancada, sugiro que se altere o método que está em vigor. Com tanta tecnologia não faz sentido que as presenças sejam feitas de uma forma tão fácil de aldrabar. Sugiro que se implemente um chip RFID nos deputados, dos grandes e naquele sítio que todos sabemos. Este chip, além de registar as presenças, poderá estar ligado a um polígrafo e sempre que um deputado mente, leva um choque eléctrico. Vamos ver que toda a assembleia se transforma numa festa de Parkinson.

Já o voto, que deve ser pessoal e intransmissível e que já custou a demissão a Maria das Mercês Borges que votou em nome de outro colega, também deve ser adaptador à realidade das novas tecnologias. Já que toda a gente partilha passwords, só há uma forma de assegurar a democracia: o voto ser feito através de impressão digital. Sempre que virmos um político sem um dos dedos, ou algum com um dedo no porta-chaves, sabemos que estamos na presença de um aldrabão.

Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:

Para ouvir: Teu eternamente, de Slow J

Para ver: Le Jeu, na Netflix

Para ouvir: Podcast Segundo, de Dário Guerreiro