"Vou esperar até ao fim, tenho que ficar porque se não for agora, nunca mais será. Tenho que ficar até ao fim", afirmou à Lusa Aurélio Ncomacha, 35 anos, um dos 3.308 eleitores recenseados para votar hoje nas cinco assembleias de voto constituídas naquela escola, no distrito municipal de Kampfumu.

Jurista de profissão, chegou cerca das 07:30 (menos uma hora em Lisboa) e enfrentou uma hora de fila até poder votar, ainda assim "paciente" e convicto da importância do momento: "Tenho boas expetativas, espero que tudo corra bem".

A votação para escolher os autarcas dos 65 municípios vai decorrer até às 18:00 (17:00 em Lisboa), num dia que seria normal de trabalho no país, mas com todo o comércio e instituições na capital encerradas, e com apelos oficiais aos eleitores para que não fiquem nas assembleias de voto após a votação, enquanto a oposição pede o contrário, alegando receios de fraude eleitoral.

"Vou para casa, ficar com a família e ver pela TV como estão a correr as eleições", garantiu Aurélio.

Simão e René Mucavel, dois irmãos, compareceram para votar às 07:00, na mesma escola, e também enfrentaram a fila para receberem o boletim de voto, de resto semelhante a outros locais de voto na cidade de Maputo.

"Espero que sejam eleições pacíficas e ordeiras e que corra tudo bem. Que as pessoas possam exercer o seu dever cívico", afirmou Simão, 22 anos, finalista do curso de Direito e que vai passar o resto do dia dividido entre os estudos e a televisão, para acompanhar as eleições.

"Decidimos fazê-lo juntos, logo nas primeiras horas, para evitar aquela azáfama das últimas horas do final do dia", explicou por seu turno o irmão René, 33 anos e gestor, sem esconder a expetativa para este dia.

"Espero que seja, primeiro, um momento de festa, do exercício da nossa cidadania, e que possamos de forma consciente exercer o nosso direto cívico e escolher os nossos representantes para os próximos cinco anos", disse ainda.

A "afluência em massa" às urnas, para René, que é também formado em Ciência Política, merece "nota positiva", por "demonstrar" que "cada vez mais" há em Moçambique uma "consciência" sobre diretos e deveres.

Confessa que após 30 minutos de espera na fila, é tempo de voltar para casa e assistir à jornada eleitoral pela televisão, de resto tal como Josina Cossa. A gestora de recursos humanos, de 53 anos, também enfrentou a fila para votar logo às 07:00, naquela escola, esperando por uma eleição que escolha uma pessoa com "sabedoria para dirigir Maputo".

"Que cada um de nós exerça o seu direito de voto de forma consciente", disse, assumindo que a afluência às urnas demonstra que as pessoas "percebem que têm uma responsabilidade neste processo".

Em toda a cidade de Maputo foram constituídas para estas eleições 197 locais de voto, com 889 assembleias, mas a Escola Secundária Josina Machel foi local de votação também do Presidente da República, Filipe Nyusi, o primeiro a votar, elogiando já à saída o "exemplo dos moçambicanos" e voltando a comparar a votação de hoje com um jogo de futebol, em que o vencedor só é conhecido no final da partida.

"Vocês fazem reportagens dos jogos. Normalmente quando joga o Ferroviário, Maxaquene, o Costa do Sol, o Baía [clubes do Moçambola], fazem relatos, também o Sporting em Portugal quando joga com o Benfica. Nunca ouvi dizer que antes dos 90 minutos de um jogo quem ganhou é o Benfica, quem ganhou é o Baía. Esperem os 90 minutos terminar, o apito final, para anunciar a vitória", disse, aos jornalistas.

De acordo com dados do recenseamento eleitoral, estão inscritos 8.723.805 eleitores em todos os distritos do país com autarquias locais e 4.817.712 eleitores nas circunscrições com autarquias locais.

Os eleitores moçambicanos são chamados a escolher 65 novos presidentes dos Conselhos Municipais e eleitos às Assembleias Municipais, incluindo em 12 novas autarquias aprovadas por Conselho de Ministros em outubro de 2022, que se juntam a 53 já existentes, num total de 1.747 membros a eleger.

Concorrem às eleições autárquicas mais de 11.500 candidatos de 11 partidos políticos, três coligações de partidos e oito grupos de cidadãos, tendo a Comissão Nacional de Eleições determinado 1.486 Locais de Constituição e Funcionamento das Assembleias de Voto e 6.875 mesas de Assembleia de Voto.

Nas eleições autárquicas de 2018, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder) venceu em 44 das 53 autarquias e a oposição em apenas nove, a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) em oito e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) em uma.

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