"No que se refere à questão da distribuição da ajuda, precisamos que façam mais. Neste momento, entra cerca de 150 camiões por dia em Gaza [mas] temos de estar perto dos 500. Todos os dias que não estivermos mais perto dos 500, haverá mais pessoas a passar fome, mais pessoas a contrair doenças", vincou, durante uma audição da comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros.

Neste momento, estima-se que "cerca de 90% dos habitantes de Gaza estão a receber menos de uma refeição por dia", adiantou.

Cameron declarou que o objetivo do Governo britânico é "pôr fim a este conflito" a curto prazo e "tentar ajudar a alcançar alguma estabilidade no Médio Oriente."

A longo prazo, disse acreditar que "não haverá verdadeira segurança, nem para Israel nem para os palestinianos, se não se avançar para uma solução de dois Estados".

"Nenhum cessar-fogo é realmente sustentável para sempre a menos que se tenha um horizonte político", argumentou, mantendo a posição favorável a "pausas humanitárias".

Questionado sobre se a intervenção militar israelita vai conseguir alcançar o objetivo de eliminar o Hamas, Cameron reconheceu que "para derrotar uma ideologia são necessárias muitas outras coisas, incluindo progressos no sentido de uma solução política".

Sobre a posição jurídica do Reino Unido relativamente ao facto de a Faixa de Gaza ser ou não ocupada por Israel, o antigo primeiro-ministro hesitou e disse que teria de consultar os serviços jurídicos do Ministério.

A presidente da comissão parlamentar, Alicia Kearns, sugeriu que atualmente, a lei britânica considera Gaza como um território de ocupação e "Israel tem obrigações enquanto potência ocupante, quer o considere ou não".

"Israel está a travar uma campanha contra o Hamas. Temos de verificar regularmente se isso está em conformidade com o direito humanitário internacional e avaliar essa situação. Não creio que Israel se considere uma força de ocupação. Mas se isso é correto, gostaria de obter aconselhamento jurídico", respondeu Cameron.

O mais recente conflito entre Israel e o Hamas foi desencadeado pelo ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano em território israelita em 07 de outubro, matando cerca de 1.140 pessoas, na maioria civis, segundo números oficiais de Telavive.

Em retaliação, Israel prometeu eliminar o movimento palestiniano, considerado terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, e lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local, já foram mortas mais de 23 mil pessoas, na maioria mulheres, crianças e adolescentes.

O conflito provocou também cerca de 1,9 milhões de deslocados (cerca de 85% da população da Faixa de Gaza), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado numa grave crise humanitária.

BM (HB) // APN

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