Num exercício simula-se a intervenção num laboratório onde existem materiais explosivos - como o triperóxido de triacetona, um pó branco conhecido por TATP -- e agentes químicos. Equipados com fatos brancos de proteção NRBQ (preparado para substâncias nucleares, radiológicas, biológicas e químicas), máscaras de oxigénio e luvas, os formandos entram na sala, identificam materiais, fazem testes rápidos de deteção e recolhem amostras para análise.

A ideia, segundo o comissário da PSP Arménio Liceia, é aproximar ao máximo o treino de uma resposta em cenário real, como o envio de cartas suspeitas, ameaças de bomba ou incidentes com cargas radioativas ou químicas potencialmente intencionais. E apesar de reconhecer que em Portugal não há essa experiência, por se lidar apenas com ameaças não concretizadas ou falsas, sublinha que a preparação vai mais longe do que a realidade.

"Muitas vezes, o domínio teórico, depois vertido em treinos práticos, leva-nos muito além daquilo que é a realidade, porque a imaginação é muito superior àquilo que é exequível na prática. Embora este treino fosse muito focado em cenários quotidianos e passíveis de acontecer, o simples -- muitas vezes -- torna-se complexo", refere o coordenador do centro de inativação de explosivos, segurança, subsolo e NRBQ.

Portugal até elevou na última semana o nível de ameaça terrorista de "moderado" para "significativo" (o segundo patamar numa escala de quatro), com o agravamento das tensões internacionais na sequência do conflito entre Israel e o Hamas. Porém, o comissário da polícia assegura que o grau de prontidão dos operacionais é igual e que esta formação é essencial para todos os países 'falarem a mesma língua' perante ameaças transnacionais.

"O nosso nível de empenhamento e preparação para a resposta tem de ser sempre máximo, porque não podemos estar à espera de que haja um evoluir prévio para que nos preparemos 'a posteriori'. Portanto, o interesse é estar antecipadamente preparado", nota, sublinhando que antes desta intervenção há todo um trabalho anterior de investigação e a tomada de uma série de decisões, como a definição de pontos de entrada e saída, perímetros de segurança, etc.

No exterior do laboratório, após o reconhecimento, uma tenda com menos de uma dezena de metros aguarda os operacionais para o processo de descontaminação. À sua espera estão colegas que os ajudam nessa etapa, tendo os formandos de retirar sozinhos os equipamentos de proteção e guardar em sacos pretos, que são depois fechados e enviados para incineração, algo que deve ser efetuado de forma rápida e discreta.

Entre os participantes estão dois observadores ucranianos, devidamente autorizados pela Comissão Europeia, que procuram em Portugal adquirir mais conhecimentos para responder a possíveis ameaças russas na guerra que assola o país desde fevereiro de 2022, com vista a poderem formar no futuro mais colegas na Ucrânia.

"A guerra na Ucrânia continua, infelizmente, e a Ucrânia está fortemente contaminada com diferentes tipos de munições e armas. Estamos a fazer a tarefa de limpeza para tornar a nossa terra segura para o nosso povo e as nossas crianças. É por isso que estamos aqui", conta Volodymyr Gromiak.

Segundo este polícia ucraniano, especialista em explosivos, "a Rússia está a usar diferentes tipos de armamento" e não podem ser descartadas ameaças biológicas, químicas ou nucleares.

"Eles levam ferramentas de reconhecimento e avaliação rápida de cenários com potencial presença deste tipo de substâncias", assinala Arménio Liceia, continuando: "Pode ser um químico utilizado na indústria e que pode ser igualmente nocivo, podem enfrentar situações de ameaça explosiva associadas a esses agentes, fontes radioativas - porque ainda existem equipamentos que nas áreas bombardeadas tinham esse tipo de fontes -, ou nenhuma delas. Estamos a preparar pessoas para o uso intencional".

A ação de formação, que começou na segunda-feira e acaba na sexta-feira, é já a segunda nesta área, depois de outros 16 formandos europeus terem estado em Portugal há duas semanas. O treino contou ainda com a colaboração da Agência Portuguesa do Ambiente, Instituto Dr. Ricardo Jorge, Instituto Superior Técnico e Exército.

*** João Paulo Godinho (texto), Jorge Coutinho (imagem) e António Pedro Santos (fotos) ***

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