Paulo Raimundo deslocou-se esta manhã ao centro de saúde de Marvila, em Lisboa, inaugurado em janeiro deste ano e no qual perto de 13 mil utentes não têm médico de família atribuído, devido a limitações de recursos humanos.

Tendo chegado ao local por volta das 07:45, o secretário-geral do PCP conversou com vários utentes que esperavam à porta do centro de saúde desde madrugada, com alguns a dizerem que já é o segundo dia consecutivo em que se deslocam ao local para serem atendidos.

Vários utentes queixaram-se da falta de serviços, da dificuldade de acessos, da falta de infraestruturas de proteção para as intempéries ou de assentos para esperarem pela abertura das portas do centro de saúde, às 08:00.

Em declarações aos jornalistas durante estes contactos com os utentes, Paulo Raimundo defendeu que o Governo "tem condições" e dinheiro para resolver os problemas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e "só não resolve se não quiser".

"Há uma crise geral na política do Governo. Nós temos condições, temos dinheiro, temos tudo... A opção é que está errada, porque o problema não é dos profissionais, que fazem falta, das condições do país, que existem, é o problema de uma opção errada que é preciso resolver rapidamente", disse.

Paulo Raimundo criticou em particular o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, considerando que não está a fazer o suficiente nas negociações com os sindicatos.

"O ministro da Saúde tem um projeto, que não é pôr isto a funcionar, é desmantelar estes serviços", acusou.

Entre as medidas que considerou serem necessárias, Paulo Raimundo defendeu que é preciso "criar condições para que os médicos se fixem no SNS", referindo que o PCP propõe "50% de majoração salarial" para os médicos que decidam ficar no setor público.

"É uma medida concreta, não é agora a propaganda que o Governo vem fazer, nestas negociações, que diz que vai dar 30 e tal porcento de aumento mas, depois vamos a ver no concreto, isso não tem nada a ver com a realidade", disse.

O secretário-geral do PCP abordou ainda especificamente o caso do encerramento dos serviços de urgência de obstetrícia dizendo não saber "como é que é possível o Governo gerir com tanta facilidade esta intermitência" nesses serviços.

"Nem percebo muito bem como é que alguém que é responsável pelo ministério da Saúde consegue dormir descansado com essa realidade", referiu.

Pouco depois da abertura das portas do centro de saúde, Paulo Raimundo fez um curto discurso em que considerou que a situação que se vive em Marvila é a prova de que "há uma diferença brutal entre o que é a realidade dura da vida e depois a propaganda" do Governo.

"A realidade é esta: 13 mil utentes sem médico de família, uma realidade para a qual não há condições de trabalho, nem de valorização, nem de respeito dos seus profissionais, quer sejam médicos, auxiliares, técnicos, enfermeiros. Para os utentes e para os profissionais que aqui trabalham, sobram sempre as promessas", disse.

Nas declarações aos jornalistas, o secretário-geral do PCP mostrou-se convicto de que as várias diligências que os utentes do centro de saúde de Marvila têm feito - no dia 11 de setembro, fizeram uma vigília, estando marcada uma nova ação de protesto para esta sexta-feira - irão "ter resultados".

"Nós não podemos estar confrontados com um Governo tão lesto a responder aos problemas do setor privado da saúde, por exemplo, em que é tão rápido e tão facilmente resolve as coisas e, depois, perante esta situação, é promessas atrás de promessas", disse.

TA // JPS

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