"A saída de Angola espelha o impacto limitado que teve a saída de outros produtores nos últimos anos, como a Indonésia, o Qatar ou o Equador, mas mostra desenvolvimentos problemáticos para o clube", escreve o conhecido analista energético Javier Blas, na Bloomberg.

"O anúncio, com o Governo de Luanda a mostrar abertamente a sua frustração com o cartel, mostra um segredo conhecido, segundo o qual vários membros da OPEP estão descontentes com a direção que o grupo está a seguir nos últimos anos, sob liderança da Arábia Saudita", diz Blas, apontando para a vontade da Arábia Saudita em manter o preço do petróleo perto dos 100 dólares por barril, o que limita a produção de outros países.

A limitação da produção dá corpo à segunda grande crítica que o analista diz que é feita em privado: a Arábia Saudita não ouve as críticas dos outros membros, primeiro porque é o maior produtor mundial, e depois porque "tenta calar quaisquer críticas e obrigar os países a serem submissos".

Esta linha, argumenta o analista, é liderada pelos Emirados Árabes Unidos, que produzem 3 milhões de barris por dia, mas podiam chegar a quatro ou até cinco milhões de produção diária, e por isso, conclui, "os riscos para o futuro da OPEP começam em Luanda, mas em boa verdade vão, de forma bem mais perigosa, até Abu Dhabi", a capital dos Emirados.

Apesar desta análise mais profunda sobre os meandros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), os analistas concordam que a saída de Angola da organização, anunciada na quinta-feira devido à limitação da produção para o próximo ano, vai ter pouco ou nenhum impacto.

"A decisão de Angola sair da OPEP não é propriamente inesperada tendo em conta as discussões que têm havido nos últimos meses sobre a sua quota de produção", diz o economista-chefe da consultora Eaglestone.

Em declarações à Lusa, Tiago Dionísio admite que, "apesar de poder pôr em causa uma certa coesão entre os membros do cartel, a decisão de Angola não vai ter propriamente impacto sobre as perspetivas de produção de crude" e lembra que "o país já estava a produzir muito próximo da sua máxima capacidade".

"Não há impacto nas previsões de oferta, uma vez que Angola já estava a produzir na máxima capacidade, e não estava a limitar a produção devido às quotas", aponta o consultor Richard Bronze, da Energy Aspects, citado pela Bloomberg.

Não tem "qualquer impacto direto nas quotas ou nos planos de produção para os outros países da OPEP+", acrescenta, referindo-se ao grupo de 10 países aliados da OPEP, incluindo a Rússia, na estratégia de definição dos preços e da produção.

A decisão anunciada pelo ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino de Azevedo, surge poucos dias depois de o Presidente de Angola ter feito uma visita aos Estados Unidos da América, que publicamente criticam as políticas da OPEP, e no contexto dos investimentos norte-americanos no Corredor do Lobito.

Surge também depois de vários meses em que Angola tem defendido um aumento da sua produção de petróleo, contrariando o interesse dos maiores produtores em fazer aumentar os preços globais.

A OPEP+ apresentou, na reunião do início de dezembro, uma meta de 1.110 mil barris por dia, enquanto Angola queria produzir mais 70 mil barris.

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