A 70 quilómetros da capital provincial, a comunidade de Intutupue, no distrito de Ancuabe, desempenha um papel importante no fornecimento de material de construção, como tábuas, barrotes, paus e bambus, sobretudo para a cidade de Pemba, mas a atividade está ameaçada devido à presença dos terroristas, nas matas.

"A situação está difícil, terroristas circulam a 10 ou 15 quilómetros, até mataram Nampharamas [grupo paramilitar tradicional], no domingo, por isso muitos estão a voltar", disse uma fonte local, à Lusa, a partir de Intutupue.

No último domingo, grupos de insurgentes protagonizaram um ataque nas matas de Intutupue contra um grupo de paramilitares, localmente conhecidos por Nampharamas, matando sete deles, mas também com dois mortos entre os rebeldes.

"A situação não está boa, estamos todos com medo", disse à Lusa um madeireiro que abandonou o estaleiro no interior das matas, conhecida como a zona de Unhanhacula, local onde se registou a troca de tiros.

Além de madeireiros, vários camponeses também abandonaram a zona de Unhanhacula, receando novos ataques, deixando para trás os campos de produção.

"Eu e a minha esposa, deixamos a zona. Há ameaça dos rebeldes, estão a circular entre nós e isso pode custar caro", disse um camponês de 64 anos.

Depois de vários meses de relativa normalidade nos distritos afetados pela violência armada em Cabo Delgado, a província tem registado, há algumas semanas, novas movimentações e ataques de grupos rebeldes, que têm limitado a circulação para alguns pontos nas poucas estradas asfaltadas que dão acesso a vários distritos.

A nova vaga de ataques terroristas em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, provocou 99.313 deslocados em fevereiro, incluindo 61.492 crianças (62%), indicou uma estimativa divulgada esta semana pela Organização Internacional das Migrações (OIM).

O ministro da Defesa Nacional moçambicano, Cristóvão Chume, confirmou em 29 de fevereiro ataques de insurgentes em quatro distritos da província de Cabo Delgado, mas garantiu não se trata "de um recrudescimento" das atividades terroristas no norte.

"Eu quero dizer que não é isso que está a acontecer, porque se fosse efetivamente isso, estaríamos a dizer que há distritos ou sedes distritais que estão ocupadas, sem acesso das populações. O que aconteceu é que há grupos pequenos de terroristas que saíram dos seus quartéis, lá na zona de Namarussia - que temos dito que é a base deles -, foram mais a sul, atacaram algumas aldeias e criaram pânico", disse Cristóvão Chume.

O governante, que falava aos jornalistas, em Maputo, no final de um encontro com uma missão de alto nível da União Europeia, garantiu que a situação em Cabo Delgado "continua estável, não obstante as últimas ocorrências no sul da província".

"Como se sabe, algumas aldeias nos distritos de Quissanga, Metuge, Ancuabe, Chiùre, sofreram alguns ataques, que originaram um deslocamento da população mais a sul, para a província de Nampula, e também para outros distritos de Cabo Delgado", reconheceu.

De acordo com o ministro, é preciso apostar em programas de desenvolvimento para "minimizar o risco de radicalização" e "prevenir a reemergência do terrorismo".

Ainda assim, alertou: "Não queremos dizer com isso que não há ocorrências de terrorismo, há sim. E nós vamos continuar a combater, mas não há de voltar a acontecer o que aconteceu no passado. Nós estamos firmes nisso, mas vamos assistir a situações como estas que aconteceram em Chiùre, em Metuge, e outras zonas, de haver alguns ataques que não poderemos evitar".

RYCE (PVJ) // EJ

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