"A comunidade internacional não pode fechar os olhos ao que está a acontecer no Darfur e permitir outro genocídio nesta região", avisou Borrell, numa mensagem na rede social X (antigo Twitter).

Na sexta-feira, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) informou que cerca de 700 pessoas foram mortas entre 04 e 05 de novembro em confrontos entre o exército do Sudão e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) no Darfur Ocidental.

De acordo com o mais recente relatório desta agência das Nações Unidas, os combates foram intensos durante os dois dias na cidade de Al Geneina, capital do estado de Darfur Ocidental, onde cerca de 700 pessoas foram mortas, mais de 100 outras ficaram feridas e cerca de 300 estão desaparecidas.

Num comunicado hoje divulgado, o alto representante para os Assuntos Externos da UE acrescentou que a comunidade europeia "está chocada e condena a recente e dramática escalada de violência em Darfur".

"De acordo com relatos de testemunhas oculares credíveis, mais de mil membros da comunidade Masalit foram mortos em Ardamta, Darfur Ocidental, em pouco mais de dois dias, durante ataques levados a cabo pelas Forças de Apoio Rápido e pelas milícias afiliadas", pode ler-se no comunicado.

Borrell referiu que estas recentes atrocidades parecem fazer parte de uma campanha mais ampla de "limpeza étnica" levada a cabo pelas forças das RSF, com o objetivo de erradicar a comunidade Masalit não-árabe do oeste de Darfur.

De acordo com grupos humanitários sudaneses, nos primeiros dias de novembro, paramilitares e milícias árabes aliadas já tinham cometido um massacre na localidade de Erdamta, perto de Al Geneina, depois de terem tomado o controlo desta zona do Darfur após a retirada do exército.

Em resposta a esses relatos, a missão das Nações Unidas no Sudão anunciou na quarta-feira que está a investigar "graves violações dos direitos humanos" perpetradas pelas RSF e pelas tribos árabes aliadas no Darfur Ocidental contra a comunidade Masalit, uma tribo africana do Sudão Ocidental e do Chade Oriental.

Hoje, a UE recorda às partes em conflito que, ao abrigo do direito internacional, devem proteger os civis no Darfur e em todo o Sudão, e recorda que está a trabalhar com o Tribunal Penal Internacional e com outros parceiros internacionais para documentar as violações dos direitos humanos.

Na última semana, mais de 8.000 refugiados sudaneses fugiram para o vizinho Chade, embora este número esteja provavelmente subestimado, segundo as Nações Unidas, enquanto organizações sudanesas locais estimam que o número pode ultrapassar os 20.000 deslocados.

A tragédia ocorre no contexto da guerra aberta entre o Exército sudanês e as RSF que se iniciou em 15 de abril, já provocou pelo menos 9.000 mortes e transformou o Sudão no país com o maior número de pessoas deslocadas internamente em todo o mundo, de acordo com as Nações Unidas.

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