Bem cedo pela manhã, numa iniciativa do Grupo da Esquerda do Parlamento Europeu, deputados desta família política, designadamente do Bloco de Esquerda e do PCP, distribuíram perto de um milhar de cravos no exterior da assembleia, aos deputados, assistentes e visitantes que marcaram presença naquele que é o último dia de sessão plenária da atual legislatura (2019-2024).

Já no interior do Parlamento, antes da última votação da legislatura, à entrada para o hemiciclo, o grupo dos Socialistas europeus também promoveu um momento de celebração, com uma foto de família, à qual se juntaram deputados de várias forças políticas e nacionalidades, que cantaram por mais de uma vez a canção emblemática da revolução e gritaram "fascismo nunca mais".

Com as eleições europeias no horizonte (06 a 09 de junho), e quando se antecipa uma forte subida da extrema-direita, que 'ameaça' aumentar significativamente a sua representação no Parlamento Europeu, os deputados do grupo da Esquerda sublinharam a importância de defender os valores de Abril, face ao risco de retrocessos.

"Nós vivemos tempos na Europa em que há cada vez mais forças políticas que querem atacar a democracia, ou estão já a atacar a democracia. Temos ataques à liberdade de expressão, a direitos fundamentais que pensávamos que estavam adquiridos e serem irreversíveis, como direito de mulheres, direitos de minorias, e também problemas ao nível dos cidadãos a coisas tão fundamentais como uma vida digna, o direito à habitação, o direito à saúde e à educação", afirmou José Gusmão, do Bloco de Esquerda, à Lusa.

O deputado bloquista defendeu que "lembrar o 25 de Abril é importante para perceber que a democracia não é apenas a representação política e um conjunto de direitos políticos que são fundamentais, é também um conjunto mais alargado de direitos que a constitui, e se esses direitos não forem respeitados, não forem defendidos, não forem alargados, o risco do regresso ao passado permanece".

"E este Parlamento Europeu, mesmo na sua composição atual, está aí para nos lembrar disso. Ontem tivemos um debate sobre o negacionismo das ditaduras, em que tivemos deputados de extrema-direita a fazer a apologia de regimes que pensámos que tinham sido derrotados para sempre. E podem ser derrotados para sempre, mas temos é de nos mobilizar", concluiu.

Para João Pimenta Lopes, do PCP, "é fundamental, até face àquilo que ainda falta cumprir da Revolução de Abril", assinalar os 50 anos do 25 de Abril, "lembrando aquilo que foram esses valores maiores, esse processo maior transformador da vida de Portugal e dos portugueses, e os valores que se projetam no futuro do desenvolvimento do país, mas também do desenvolvimento dos povos da Europa".

De acordo com o deputado comunista, a Revolução dos Cravos deve ser "uma referência e um exemplo das possibilidades de transformação, num momento particularmente cinzento da história, onde os retrocessos parecem verificar-se quase a diário", a nível social, laboral, mas também "do ponto de vista do acesso à cultura, ao desporto", pelo que, também face à "sombra do fascismo e da guerra, tão mais importante é por isso marcar, lembrar e evocar este dia e esse momento maior, esses valores que se projetam a partir de Abril".

Já no interior do Parlamento, à entrada para o hemiciclo pouco antes do início da última votação da legislatura, o grupo dos Socialistas organizou um pequeno evento, também distribuindo cravos e pequenos cartazes, no qual se juntaram eurodeputados de diferentes forças políticas e nacionalidades.

"É um momento simbólico e de grande significado para todos nós, na conclusão desta legislatura. Estamos aqui a celebrar os 50 anos do 25 de Abril em pleno Parlamento Europeu, aqui em Estrasburgo", comentou à Lusa a deputada Isabel Santos, do PS, que, com as eleições europeias no horizonte, deixou também "um grande apelo à preservação dos valores democráticos, a um voto consciente, crítico e em defesa do projeto europeu".

Também presente na pequena cerimónia evocativa, Lídia Pereira, deputada de 31 anos do PSD, sublinhou o facto de ser "neta da liberdade", pelo que "se não fosse pela liberdade do 25 de abril, não poderia estar aqui hoje a exercer as funções enquanto eurodeputada".

"O 25 de abril foi fundamental para que os portugueses tivessem a oportunidade de se desenvolver, de consolidar, de crescer junto da pertença à União Europeia, e creio que é isso que também celebramos aqui", disse à Lusa.

No início da última sessão de votação da atual legislatura, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, também começou a sua intervenção assinalando o 50º aniversário do 25 de Abril em Estrasburgo, França, afirmando que é um dia "inspirador" e que recorda a necessidade de continuar a defender "os valores europeus fundamentais".

"É um momento na História europeia que ainda hoje reverbera e inspira, um dia em que a democracia, a liberdade e a dignidade voltaram a ocupar o seu lugar em Portugal, e que nos recorda que nunca devemos dar por garantidos estes valores europeus fundamentais. Por isso, o simbolismo do dia de hoje é tanto mais significativo quando nos reunimos para a última sessão de votação desta IX legislatura do Parlamento Europeu", declarou

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