"A CNE eximiu-se às suas responsabilidades e não fez o seu trabalho (...) Cabe agora aos donos dos votos, aqueles que se sentem defraudados, saberem como exigir a reposição da verdade", declarou Fernando Mazanga, em declarações à comunicação social à margem da cerimónia de anúncio dos resultados das eleições autárquicas de 11 de outubro em Moçambique.

A Comissão Nacional de Eleições de Moçambique anunciou hoje a vitória da Frelimo em 64 das 65 autarquias do país, enquanto o MDM, terceiro maior partido, ganhou apenas na Beira.

Fernando Mazanga afirmou que a CNE, que tem entre as suas missões o dever de administrar e fiscalizar escrutínios em Moçambique, escolheu ignorar as várias fraudes registadas neste processo e acusou o presidente do órgão, Carlos Matsinhe, de ter cedido à pressão.

"Nós tivemos um trabalho péssimo, orientado pelo presidente Matsinhe. O presidente Matsinhe deixou-se acobardar pelas ameaças, que acho que vinha recebendo", acrescentou Mazanga, um dos dois vice-presidentes da CNE indicados pelos principais partidos (Frelimo, no poder, e Renamo, principal força de oposição).

De acordo com a legislação eleitoral moçambicana, os resultados do escrutínio ainda terão de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional (CC), máximo órgão judicial eleitoral do país.

Partidos da oposição, sobretudo a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, têm promovido, um pouco por todo o país, marchas de contestação aos resultados das eleições de 11 de outubro, juntando milhares de pessoas que denunciam uma alegada "megafraude" no escrutínio.

Em Maputo, tribunais distritais anularam o escrutínio nalguns postos de votação, alegando várias irregularidades, com destaque para a falsificação de editais.

Dos 65 municípios, pelo menos dois tinham já anulado, por decisão de tribunais, o escrutínio naquelas autarquias devido às alegadas irregularidades, nomeadamente Cuamba, na província do Niassa, e Chokwé, na província de Gaza, uma decisão classificada como histórica, embora as decisões tenham sido invalidadas pelo Conselho Constitucional, que entende que os tribunais distritais não possuem competências para anular escrutínios.

Na quarta-feira, os presidentes da Renamo, Ossufo Momade, e do MDM, Lutero Simango, asseguraram que vão lutar "juntos para poder salvar a democracia", insistindo que as eleições autárquicas do dia 11 foram o "cúmulo" da fraude eleitoral.

Hoje, o candidato da Renamo em Maputo, Venâncio Mondlane, afirmou que o anúncio de vitória da Frelimo na capital moçambicana e praticamente em todos os municípios foi o "homicídio da democracia" e convocou uma "megaconcentração" para sexta-feira.

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Lusa/ Fim