No decurso de um fórum sobre direitos humanos entre a União Europeia (UE) e diversas organizações não-governamentais (ONG) hoje em Bruxelas, o alto representante para a política externa da UE assinalou que, tal como criticou o regime de Franco sem ser anti-espanhol, hoje deve poder criticar-se o Governo israelita sem que isso signifique ser rotulado de antissemita.

"Começou com um ataque terrorista (...), certamente um ato de terror contra civis indefesos. Foi uma matança, mas o que estamos a ver em Gaza é outra matança. Quantas vítimas? Nada se sabe", assinalou o chefe da diplomacia comunitária, ao considerar que as atuais estimativas de vítimas podem ser inferiores à realidade "atendendo ao que resta das casas destruídas".

Borrell assinalou que, apesar de Israel ter direito a defender-se, "não se pode aceitar este elevado número de vítimas civis" porque "um horror não pode justificar outro horror e a comunidade internacional está a erguer cada vez mais a sua voz a pedir que termine este horror".

"Pode ter-se o direito de criticar o Governo do Estado de Israel sem ser qualificado de antissemita (...). Pude criticar o Governo de Franco no meu país quando era uma ditadura e sem ser anti-espanhol. Tenho o direito de defender uma solução de dois Estados sem estar contra a existência do Estado de Israel", acrescentou.

Nesse sentido, exortou no prosseguimento dos esforços para uma solução política que evite que Gaza "se converta num local de todo o tipo de violência, movimentos terroristas e migração ilegal".

"Pedimos a libertação de todos os reféns, o fim desta catástrofe humanitária, a busca de uma solução para o dia seguinte e o fim dos colonatos ilegais e das agressões contra palestinianos na Cisjordânia", concluiu Borrell.

A guerra em curso no Médio Oriente começou em 07 de outubro, após um ataque do braço armado do Hamas, que incluiu o lançamento de milhares de 'rockets' para Israel e a infiltração de cerca de 3.000 combatentes que mataram mais de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestraram outras 240 em aldeias israelitas próximas da Faixa de Gaza.

Em retaliação, as Forças de Defesa de Israel dirigiram uma implacável ofensiva por ar, terra e mar àquele enclave palestiniano, que enfrenta uma grave crise humanitária perante o colapso de hospitais e a ausência de abrigos, água potável, alimentos, medicamentos e eletricidade.

As autoridades da Faixa de Gaza, controladas pelo movimento islamita palestiniano Hamas desde 2007, aumentaram hoje o número de mortos na ofensiva israelita para quase 15.900, enquanto mais de 250 palestinianos morreram às mãos das forças de Telavive ou em ataques levados a cabo por colonos na Cisjordânia e Jerusalém Oriental desde 07 de outubro.

As partes cessaram as hostilidades durante uma semana no âmbito de uma trégua mediada por Qatar, Egito e Estados Unidos, mas os confrontos regressaram na sexta-feira após falta de entendimento para prorrogar o acordo.

PCR // JH

Lusa/Fim