Ao longo das encostas desta região são visíveis os estragos nas videiras, que, na sua maioria, ficaram completamente destruídas pela força da chuva e do granizo que caiu ao final da tarde de segunda-feira e que atingiu mais de dois terços das vinhas deste concelho do distrito da Guarda.

Agora, cada viticultor tenta à sua maneira salvar o que resta da produção através de tratamentos fitossanitários aplicados nesta cultura que é uma importante fonte de rendimento desta sub-região da Região Demarcada do Douro (RDD).

Joaquim Ferreira, com vinha na zona do Mondragão, um dos locais mais afetados pelo mau tempo, disse à Lusa que investiu muito na manutenção de vinhas novas, mas agora não vai ter retorno.

“As videiras estão num estado lastimável e a minha produção foi toda ao ar. Investi 30 mil euros no granjeio (manutenção) da vinha e o resultado da colheita deste ano será nulo”, indicou o viticultor.

O produtor acrescentou que se sente penalizado, porque “a vinha nova, até aos três anos de idade, não pode ser incluída no seguro de colheitas”.

“Agora espero alguns apoios para fazer face aos prejuízos que tenho. Esperava algum retorno na próxima colheita, mas isso não vai acontecer devido ao estado em que ficaram as videiras”, rematou.

Já Ricardo Melfa, técnico agrícola, indica que, além da vinha, houve muitos estragos nos sistemas de drenagem dos caminhos agrícolas e nos patamares que suportam as videiras.

“A produção de vinho deste ano está em causa e as produções dos próximos anos. Há danos nesta cultura [da vinha] que são irreversíveis, para além dos danos materiais nas estruturas de apoio a vinha”, disse o técnico.

O produtor Jorge Bernardo disse que há técnicos no terreno a fazer peritagem para avaliar os danos causados na vinha.

“Agora só resta esperar pelo verão e fazer tratamentos à base de cálcio, e tratar das mazelas da vinha para evitar míldio e oídio, enquanto se espera pela decisão dos peritos das seguradoras”, enfatizou.

Quem passar pelas localidades de Touça, Freixo de Numão, Cebadelhe, Mós e Murça, bem como nas imediações da cidade de Vila Nova de Foz Côa, depressa se apercebe do rasto de destruição provocada pela força da água e pela queda de granizo, que, segundo os produtores locais, durou pouco mais de meio hora e colocou em causa um ano inteiro de trabalho.

Nesta região há árvores derrubadas, muros caídos e caminhos agrícolas danificados, entre outros prejuízos.

Na terça-feira, o presidente da Adega Cooperativa de Freixo de Numão disse que os prejuízos causados na vinha “são catastróficos” para o setor vinícola do concelho.

“Os estragos provocados pela chuva e queda de granizo foram muito contundentes, o que levou a uma situação catastrófica para os produtores, porque se perspetivava uma boa colheita em termos de quantidade e qualidade das uvas”, explicou à Lusa Ilídio Santos.

Esta cooperativa vitivinícola representa meio milhar de produtores de vinho, proprietários de 1.250 hectares de vinha, onde os prejuízos são “bem visíveis”.

“Se em outras situações os estragos provocados pelo mau tempo rondavam os 20 a 40% da produção, desta vez os danos vão muito além do normal, causando prejuízos ainda não contabilizados, porque ainda só foram apurados os estragos em cerca de metade da área das vinhas dos nossos associados”, vincava o dirigente.

O concelho de Vila Nova de Foz Côa está integrado da sub-região vitivinícola do Douro Superior que está integrada na Região Demarcada do Douro (RDD), onde a vinha é a principal fonte de rendimento para os agricultores.

Ao final da tarde é esperada a visita da ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, para se inteirar dos prejuízos causados na vinha e noutras culturas.