“Uma contração mais profunda do que o previsto no setor imobiliário poderia pesar ainda mais sobre a procura privada e a confiança, aumentar as pressões fiscais sobre os governos locais e resultar em pressões deflacionistas e num círculo vicioso macrofinanceiro”, explica a avaliação anual da instituição sobre o estado e as perspetivas da economia chinesa.

O dossier – concluído no início de janeiro – aponta igualmente para os riscos decorrentes de um declínio ainda maior do que o previsto da procura externa, do agravamento das condições mundiais e do aumento das tensões geopolíticas.

No entanto, o FMI considera que a China pode aumentar a confiança e facilitar uma retoma mais forte do que o previsto do investimento privado com “medidas políticas decisivas”, tais como uma reestruturação mais rápida do setor imobiliário.

“Os ajustamentos em curso no mercado imobiliário e as tensões nas finanças públicas das administrações locais continuarão a pesar sobre o investimento privado e a confiança dos consumidores”, adverte o documento, que fala da “necessidade” de novas medidas e de uma estratégia “bem ordenada” para levar o setor imobiliário chinês para “um novo equilíbrio”.

Especificamente, o Fundo recomenda que se acelere a saída dos promotores inviáveis, que se afetem fundos adicionais para concluir os empreendimentos inacabados, que se apoiem os promotores financeiramente viáveis para “reparar” os seus balanços e que se permita uma maior participação do mercado nos ajustamentos de preços.

Quanto aos problemas de dívida dos governos regionais, a agência sublinha a “necessidade de colmatar os seus défices orçamentais e conter os riscos de dívida”, para o que propõe medidas como uma maior partilha de riscos entre os governos central e local.

No que diz respeito a impulsionar a retoma, o FMI considera que Pequim deve optar por uma política macroeconómica que “apoie a atividade a curto prazo”, redirecionando a despesa para as famílias para incentivar o consumo e alargando a rede de segurança social de forma “duradoura”, uma vez que as famílias chinesas têm uma taxa de poupança muito superior à média, em grande parte por precaução.

O relatório recomenda igualmente novas reduções das taxas de juro e uma maior flexibilidade da taxa de câmbio, congratulando-se simultaneamente com a “ênfase” das autoridades chinesas na tentativa de encontrar motores de crescimento “mais sustentáveis”.

Ainda esta semana, o FMI atualizou as suas perspetivas, prevendo um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês de 4,6% em 2024 – mais 0,4 pontos percentuais do que no relatório de outubro – e de 4,1% em 2025.

De acordo com dados oficiais, a China cresceu 5,2% em 2023, acima do objetivo de “cerca de 5%” que as autoridades tinham fixado no início do ano.

O FMI disse hoje que esta recuperação “foi impulsionada pela procura interna, especialmente o consumo privado, e assistida por medidas macroeconómicas de apoio, tais como uma maior flexibilização da política monetária, o alívio fiscal para as empresas e as famílias e as despesas fiscais para o alívio de catástrofes”.

A médio prazo, a instituição acredita que o crescimento da segunda maior economia do mundo abrandará gradualmente para cerca de 3,5% em 2028 devido a fatores como a baixa produtividade e o envelhecimento da população.