“A nossa origem é África e para África voltaremos”, afirmou Jorge Viana, durante o Seminário Empresarial Brasil-Portugal, no qual marcaram presença dezenas de empresários, o secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil, embaixador Laudemar Aguiar, o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro de Portugal, António Mendonça Mendes, o embaixador de Portugal no Brasil, Luis Faro Ramos, o diretor da AICEP no Brasil, Francisco Saião Costa, o CEO da EDP Brasil, João Marques da Cruz, o CEO da Galp Brasil, Daniel Elias, o CEO da Galo Brasil, Filipe Gonçalves, entre outros.

O responsável pela agência que promove produtos e serviços brasileiros no exterior criticou ainda o facto de o Brasil estar “ausente de África há sete anos”, numa referência aos Governos anteriores de Jair Bolsonaro e Michel Temer.

Agora, com o regresso de Lula da Silva à presidência brasileira, Jorge Viana prometeu um reforço da Apex na CPLP em áreas como a “saúde, tecnologia, mobilidade e energia”.

Em relação a Portugal, Jorge Viana considerou ser para o Brasil “espaço na Europa”, numa também parceria “adormecida que agora retoma com muita força”.

“Vivemos ontem um momento muito especial nessa retomada de relacionamento Brasil-Portugal”, disse, referindo-se às celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, organizado na segunda-feira na Embaixada de Portugal no Brasil.

No campo da saúde, estiveram hoje reunidos o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, e Jorge Viana para debater possibilidades de cooperação nesta área visando o apoio a países africanos.

Na mesma ocasião, António Mendonça Mendes sublinhou a importância de tanto a Apex, como a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) aproveitarem a dimensão e o espaço da CPLP para “potenciar investimento”.

Estas declarações surgem numa altura em que a imprensa brasileira noticiou que o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, quer reverter o desinteresse por África e planeia duas visitas ao continente, que incluirão, entre outros, Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

De acordo com o jornal brasileiro O Globo, que cita fontes diplomáticas, o objetivo das duas visitas em preparação é não só reverter o desinteresse diplomático do Governo anterior pelo Brasil, mas também fomentar as trocas comerciais entre o ‘gigante’ sul-americano e o continente africano.

“O Presidente brasileiro quer mudar a estratégia da sua política externa para englobar as nações da África, com um misto de assistência e foco económico”, escreve o Globo, notando que nas duas últimas presidências de Lula, o chefe de Estado visitou 23 países africanos em 12 viagens à região.

Entre os oito países identificados pelo jornal estão os lusófonos Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe, a que se juntam Senegal, Gana, Etiópia e Nigéria, além da reabertura da embaixada na Serra Leoa e a criação de uma representação diplomática adicional no Ruanda.

O afastamento decretado pelo anterior Governo liderado por Jair Bolsonaro fez com que o Brasil privilegiasse as relações com China, Espanha, Índia, Rússia e Turquia, mas na agenda de Lula da Silva a cooperação sul-sul é mais importante, explica o diplomata citado pelo Globo.

No ano passado, as exportações brasileiras bateram o recorde de 12,75 mil milhões de dólares (11,8 mil milhões de euros), ficando apenas ligeiramente acima dos 12,2 mil milhões de dólares (11,2 mil milhões de euros) registados em 2011, no primeiro ano do Governo de Dilma Rousseff.

De África, o Brasil importou produtos e serviços no valor de 8,5 mil milhões de dólares, cerca de 7,8 mil milhões de euros.

O Brasil exporta principalmente açúcar, carnes de frango e bovino, óleos e combustíveis, milho e soja, importando fertilizantes, petróleo, metais como prata e platina, químicos e insumos industriais, de acordo com o Globo.

A África do Sul é o principal cliente do Brasil, comprando bens no valor de 1,7 mil milhões de dólares (1,5 mil milhões de euros), seguida da Nigéria, com 875 milhões de dólares (810 milhões de euros), e Angola, com 640 milhões de dólares (592 milhões de euros).

Em sentido inverso, os principais fornecedores do Brasil são a África do Sul, com 908 milhões de dólares (840 milhões de euros) em vendas para o Brasil, e Angola, com 766 milhões de dólares (709 milhões de euros), de acordo com os dados apresentados pelo jornal brasileiro.

África representa 3,5% das trocas comerciais brasileiras, o que representa uma queda face aos 5,9% de 2014, nota ainda o Globo.