O Largo do Souto não só é o centro de São Cosme, em Gondomar, como o local onde há 100 anos se instalou a Ala, associação que foi buscar o nome à ala dos namorados que combateu na batalha de Aljubarrota e que, volvido um século, se mantém muito ativa graças ao desporto.

“São Cosme era então uma terra de lavradores e o edifício sede nasceu das ofertas de pedra e madeira dessas pessoas, passando a ser também casa paroquial”, contou à Lusa David Garrido, presidente da Ala em 1977, e que esteve acompanhado por João Nuno Ferreira, presidente entre 1987 e 2019, e por Cosme Lucílio, dirigente de 1979 a 2019, na viagem centenária.

E se a sua base religiosa fez com que nos primeiros 20 anos a associação existisse como grupo coral e de teatro, a partir de 1943, a história mudou, aqui com João Nuno e David Garrido a repartir os detalhes.

O voleibol surgiu então de uma dupla influência: dois ex-militares, sócios da associação, que, tendo feito a tropa em Moçambique, aprenderam a modalidade com norte-americanos, e de gondomarenses que trabalhavam em Matosinhos, onde já se praticava a modalidade.

A junção dessas duas realidades fez nascer a primeira equipa de voleibol em Gondomar, relataram, contando que “os jogos eram, então, disputados no campo de ténis, no Monte Crasto, adaptado ao voleibol”.

Novo salto temporal para Cosme Lucílio contar que, em 1965, começou a equipa feminina, logo assinalando que o projeto só resistiu devido a um pormenor: “o treinador, Damião Rosas, comprometia-se a ir buscar as jogadoras de carro a casa para os treinos e depois devolvê-las da mesma forma. Não havia outra possibilidade”.

Era um tempo, recordou, em que “os treinos eram onde calhava, em quintais, no espaço da antiga feira municipal e até no adro da capela do Monte Crasto”.

Os anos passaram e a “necessidade de dar resposta ao volume de atletas de voleibol, conjugada com a obrigatoriedade de a modalidade passar a ser jogada em pavilhão, fez nascer o sonho de avançar na década de 1980 com o projeto do pavilhão, inaugurado em 1993”, prosseguiu.

O esforço de angariação de fundos, primeiro para pagar 10 mil contos [cerca de 50 mil euros] e depois para mais 24 mil contos [cerca de 124 mil euros] levou a inúmeros peditórios e imaginação, parte dela gerando a venda de serigrafias por 60 contos {cerca de 300 euros], mas onde o apoio da câmara foi essencial, testemunhou o trio de antigos dirigentes.

Segundo Cosme Lucílio, nessa altura já havia sido criada a modalidade de ténis de mesa, bastante animada nos primeiros anos e que teve expoente máximo quando foi representada pela primeira vez nos Jogos Olímpicos, no Rio de janeiro, em 2016, através da sua atleta Shao Jieni.

O presente é feito de rentabilização dos espaços, como salientou David Garrido, sem esconder alguma frustração pelo facto de parte das instalações da sede estarem alugadas à Universidade Sénior de Gondomar, reconhecendo João Nuno Ferreira ser hoje “o relacionamento com a cidade muito diferente, fruto dos apelos que a população tem ao dispor”.

Cosme Lucílio e David Garrido acrescentam, a esse nível, que o futebol, o futsal e a canoagem têm retirado atletas masculinos à Ala, que, no voleibol, tem hoje “mais atletas femininas que masculinos”.

E porque é também de honra que a história da Ala se faz, David Garrido e Cosme Lucílio voltaram a 1965 para contar a história de quem, então acusado pela Câmara de Gondomar de ter colado cartazes da campanha de Humberto Delgado, "abdicou de continuar a jogar voleibol para que o clube não visse um subsídio da autarquia cancelado”.

“Muitos anos depois, então ligado a um projeto de ténis, regressou ao clube e é hoje o sócio número 1, Serafim Oliveira”, acrescentaram.

*Por Jorge Fonseca, da agência Lusa