Numa declaração em Bruxelas, pouco depois de os Estados-membros terem aprovado por unanimidade um novo pacote de sanções dirigido a Moscovo, face ao reconhecimento das “regiões ucranianas de Donetsk e Lugansk” e à decisão do Presidente russo, Vladimir Putin, de mobilizar forças militares para estas autoproclamadas repúblicas, Ursula von der Leyen advertiu que “se a Rússia continuar a agravar esta crise que criou”, a UE está pronta a tomar rapidamente “novas medidas em resposta”.

Relativamente às sanções hoje aprovadas pelos 27, a representante considerou tratar-se de um “sólido pacote”, com “uma série de medidas calibradas”, que constituem “uma resposta clara às violações do direito internacional por parte do Kremlin (Presidência russa)”.

“As sanções visam diretamente os indivíduos e empresas envolvidos nestas ações. Visam os bancos que financiam o aparelho militar russo e contribuem para a desestabilização da Ucrânia. Estamos também a proibir o comércio entre as duas regiões separatistas e a UE – tal como fizemos após a anexação ilegal da Crimeia em 2014. E, finalmente, estamos a limitar a capacidade do Governo russo de angariar capital nos mercados financeiros da UE”, apontou.

“Vamos tornar tão difícil quanto possível para o Kremlin a prossecução das suas políticas agressivas”, declarou a presidente do executivo comunitário, que voltou a acusar a Rússia de estar a “desrespeitar as suas obrigações internacionais e a violar princípios fundamentais do direito internacional”.

E prosseguiu: “A Rússia fabricou esta crise e é responsável pela atual escalada. Vamos agora finalizar rapidamente o pacote de sanções. E iremos coordenar estreitamente com os nossos parceiros, como temos feito até agora”.

A dirigente alemã disse ainda estar totalmente de acordo com o Governo alemão relativamente ao gasoduto Nord Stream 2, para a distribuição de gás natural russo à Alemanha, cujo processo de certificação foi hoje interrompido por Berlim.

“O Nord Stream 2 tem que ser avaliado à luz da segurança do aprovisionamento energético para toda a Europa. Porque esta crise mostra que a Europa ainda está demasiado dependente do gás russo. Temos de diversificar os nossos fornecedores e investir fortemente em energias renováveis. Este é um investimento estratégico na nossa independência energética”, declarou.

O chefe da diplomacia da UE anunciou hoje a aprovação, por unanimidade entre os 27 Estados-membros, de um pacote de sanções à Rússia, visando “atingir e muito” as autoridades russas, após reconhecimento de territórios separatistas no leste ucraniano.

“Devido a esta situação, hoje, os países europeus deram uma resposta rápida […] e chegaram a um acordo unânime entre os 27 Estados-membros para adotar um pacote de sanções que apresentei ao Conselho após longas horas de negociações”, anunciou Josep Borrell, falando numa conferência de imprensa em Paris, após uma reunião informal convocada de urgência na véspera para discutir a imposição de sanções à Rússia.

Vincando que “este é um momento particularmente perigoso para a Europa”, o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança apontou que este pacote de sanções “atingirá a Rússia e atingirá muito”.

“Estamos em forte coordenação com os nossos parceiros, Estados Unidos, Reino Unido e Canadá, com os quais tenho estado em estreito contacto durante estas horas”, afirmou Borrell, ameaçando “aumentar o nível de sanções substancialmente consoante o comportamento russo”.

Em concreto, as sanções hoje aprovadas abrangem 27 indivíduos e entidades e 350 membros da câmara baixa do parlamento russo (Duma), como a Lusa já tinha avançado.

No que toca às sanções financeiras, preveem-se restrições às relações económicas da UE com as duas regiões separatistas, de Donetsk e Lugansk, bem como o congelamento de bens de dois bancos privados russos, especificou Josep Borrell.

Segue-se agora uma reunião dos embaixadores dos Estados-membros junto da UE, para o aval final do pacote de sanções, ainda hoje.

A posição da UE surge após o Presidente russo, Vladimir Putin, ter assinado, na segunda-feira à noite, um decreto que reconhece as autoproclamadas repúblicas de Lugansk e de Donetsk, no Donbass (leste da Ucrânia), e de ter ordenado a mobilização do exército russo para “manutenção da paz” nestes territórios separatistas pró-russos.

A decisão de Putin foi condenada pela generalidade dos países ocidentais, que temiam há meses que a Rússia invadisse novamente a Ucrânia, depois de ter anexado a península ucraniana da Crimeia em 2014.

Em 2014, a Rússia anexou a península ucraniana da Crimeia, depois da queda do Governo pró-russo em Kiev, e elaborou um referendo sobre o regresso do território à Federação Russa. Desde então, Kiev está em conflito com separatistas pró-russos no leste do país.

A guerra no leste da Ucrânia entre as forças de Kiev e milícias separatistas fizeram até ao momento mais de 14 mil mortos, de acordo com as Nações Unidas.