Em declarações à agência Lusa, quando faltavam apurar 50 dos 308 concelhos, e a abstenção se situa nos 43,7%, o professor de Ciência Política no ISCTE considera que mesmo as projeções mais conservadoras apontam para uma abstenção idêntica à de 2019.

Ao início da noite, as televisões (RTP/SIC/CNN) revelaram previsões de abstenção entre os 40% e os 54%. Nas anteriores legislativas, em 2019, a abstenção situou-se nos 51,43%.

Para o especialista, as previsões menos céticas apontam para uma maior participação do eleitorado e uma abstenção mais baixa.

E refere que estes resultados, ainda que provisórios, significam que “o impacto da pandemia e dos confinamentos não foi tão forte como o previsto”, até porque “o contexto em que estas eleições aconteceram é muito distinto, do ponto de vista da perigosidade e do medo associado à covid-19, das eleições [presidenciais] de janeiro de 2021”.

Além disso, prosseguiu, “na última semana de campanha verificámos uma fortíssima possibilidade de empate técnico entre o PS e o PSD. As sondagens mostravam que não era claro qual dos dois partidos poderia efetivamente ganhar”.

“Numa situação em que a eleição está muito renhida e que não é claro qual o resultado da noite eleitoral, essa situação promove a participação, porque mobiliza simpatizantes dos dois partidos, destes dois lados da barreira ideológica, que poderiam estar relativamente descansados e desmobilizados para participar”, declarou.

Sobre as sondagens, José Santana Pereira lembrou que estas “retrataram as intenções de voto, até a alguns dias da eleição”, existindo “margem para que algumas pessoas formem ou mudem a sua decisão eleitoral, entre o último dia de trabalho de campo dessas sondagens e o próprio dia da eleição”.

“As últimas sondagens apontavam para a possibilidade de um impacto técnico (PS e PSD), mas a esmagadora maioria também apontava para o PS em primeiro lugar. Todas apontavam para que o PS pudesse efetivamente ser mais votado do que o PSD”, afirmou.

E acrescentou: “As sondagens têm o efeito de mobilização, mas também de voto útil e é provável que, perante um resultado incerto, algum eleitorado de esquerda tenha optado por abandonar os partidos pequenos e concentrado o seu voto no PS”.

Perante os dados conhecidos, José Santana Pereira considera que António Costa está “em perfeitas condições de ser o político incumbido de formar governo, com o apoio de quem, essa é uma pergunta mais complicada”.

“O que é inegável é que a aparente grande distância entre PSD e PS significa que não há sombra de dúvidas de que deverá ser António Costa o elemento central, o pivot, de formação de Governo, a partir de agora”, concluiu.