IL

O presidente da IL, Rui Rocha, acusou hoje o líder socialista de estar empenhado em “fazer oposição ao PS de António Costa” com a carta "taticista" enviada ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, que deixou “grande parte do país de fora”.

Em declarações aos jornalistas no parlamento, Rui Rocha criticou Pedro Nuno Santos por ter enviado hoje uma carta ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, na qual se disponibilizou para negociar um acordo que, em 60 dias, resolva a situação de certos grupos profissionais da administração pública.

“Trata-se da evidência e a confirmação de que Pedro Nuno Santos e o PS de Pedro Nuno Santos estão empenhados em fazer oposição ao PS de António Costa”, acusou, considerando que isso não resolve os “problemas dos portugueses”.

Apesar de subscrever a necessidade de olhar para as carreiras dos profissionais de saúde, dos polícias ou dos professores, o líder da IL criticou o facto de esta missiva deixar “uma grande parte do país de fora” e questionou se essas áreas não são uma prioridade para o PS.

Entre os exemplos do que não foi abordado, Rui Rocha apontou os alunos sem professores, utentes sem consultas e cirurgia a tempo ou as “famílias e empresas asfixiadas pelos impostos”.

“Mais do que esta troca taticista de cartas sobre um eventual orçamento retificativo - que se calhar nem vai existir - e esta demonstração de abertura, ela própria taticista porque tem prazo marcado, o que é preciso perguntar ao primeiro-ministro é se para além destas carreiras, está ou não em condições de garantir a baixa de impostos necessária às famílias e às empresas, a reforma da saúde, que o próximo ano letivo vai começar com professores nas escolas, se o sistema eleitoral passa não desperdiçar as centenas de milhares de votos”, questionou.

Rui Rocha considerou que estas são “questões estruturais que nem Pedro Nuno Santos ainda quis tratar” e sobre as quais não há ainda uma visão do primeiro-ministro.

Chega

O presidente do Chega, André Ventura, considerou hoje que o país terá um “governo de bloco central” de PSD e PS até setembro, que os portugueses irão julgar, e reiterou que vai continuar na oposição.

“A partir de agora e até setembro, vamos ter um bloco central em Portugal”, defendeu André Ventura, em declarações aos jornalistas, à porta do sub-destacamento territorial da GNR do concelho de Sintra.

O líder do Chega foi questionado sobre a carta enviada pelo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, disponibilizando-se para negociar um acordo que, em 60 dias, resolva a situação de certos grupos profissionais da administração pública, e à qual o líder do executivo já prometeu responder.

Ventura encarou esta missiva como “normal”, argumentando que, “a partir da tomada de posse, ficou claro que o PSD quer que o PS seja o seu interlocutor e, portanto, é com ele que tem de falar”.

O presidente do Chega insistiu que o seu partido estará na oposição, não deixando de aprovar “propostas que sejam positivas”.

“Acho que o tempo agora de dizer ao PSD que ainda pode arrepiar caminho, de sair debaixo da capa, do chapéu, de um partido que ele tanto criticou, já passou. A escolha foi feita e assumida e agora é tempo de trabalhar essa escolha para evitar que em setembro tenhamos um cenário de instabilidade”, defendeu.

André Ventura disse esperar que PS e PSD “criem essas condições de convergência para se entenderem”.

Interrogado sobre a moção de rejeição ao programa de Governo apresentada pelo PCP, o líder do Chega defendeu que não faz sentido aprovar o documento, uma vez que não há “alternativa política”.

“A partir de agora e até setembro vamos ter um bloco central em Portugal, portanto, não vejo razão para aprovar moção nenhuma. Acho que tem que se deixar o PSD e o PS governarem, nós cá estaremos para ver o que esteve bem e o que está mal, e em setembro tomaremos a nossa decisão”, afirmou.

Na opinião do dirigente do Chega, “o PS meteu-se a ele próprio num beco do qual não consegue sair”.

“Por um lado, quis ser disponível para mostrar que é o adulto na sala e agora já percebeu que a Aliança Democrática lhe disse, ‘então vais ter que ser tu a aprovar o orçamento’, e quer despachar a coisa em junho ou julho, para não ter que aprovar o Orçamento do Estado [para 2025], isso é evidente”, defendeu.

Lembrando que o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, teve várias funções governativas ao longo dos últimos anos, incluindo no último executivo, Ventura questionou a credibilidade do líder socialista “para propor medidas destas”.

“Se Montenegro acha que Pedro Nuno Santos tem credibilidade para propor medidas destas, é o juízo que ele fará. Um dia serão os dois julgados pelos portugueses sobre a forma como conduziram este processo governativo”, considerou.

BE

A deputada do BE Marisa Matias considerou hoje curioso que o PS tenha descoberto que “afinal há condições orçamentais” para resolver problemas aos quais a maioria absoluta não respondeu, esperando que o PSD cumpra as promessas eleitorais.

“Estes problemas já existiam e a maioria do PS não quis resolver nenhum deles, tendo condições para isso, e portanto não deixa de ser de certa forma curioso que parece que haja agora uma descoberta de que afinal há condições e condições orçamentais, inclusive, para poder dar resposta aos professores, aos oficiais de justiça, aos profissionais de saúde e às forças de segurança”, apontou durante uma conferência de imprensa no parlamento para apresentação de um projeto de lei sobre o apoio às rendas,

Aquilo que a dirigente do BE espera é que as promessas eleitorais sejam “cumpridas por todos”.

“Lamentamos que seja tardiamente, mas neste caso especificamente, como estes problemas estão ainda por resolver, faremos tudo o que está ao nosso alcance para pressionar o Governo a que não seja só palavras, que seja mais ação e que possa trazer enquanto Governo o cumprimento das coisas que foi dizendo na campanha eleitoral”, enfatizou.

Para Marisa Matias, não faz sentido arrastar estes problemas sabendo que há condições para os resolver, sendo a preocupação do BE “que os professores possam ver as suas carreiras descongeladas, que os profissionais de saúde tenham condições, que os oficiais de justiça tenham condições e que as forças de segurança também as tenham”.

“Nós percebemos que o PSD, durante a campanha eleitoral, foi muito célere a apresentar promessas para resolver estes problemas, que são problemas centrais neste momento”, começou por referir, avisando que desde que “deixou de ser campanha e passou a ser oficial que, da parte de Luís Montenegro e do Governo, já não há tanta clareza sobre o cumprimento dessas promessas”.

Alertando para “alguns recuos e expressões muito vagas sobre a intenção de cumprir essas promessas”, a deputada bloquista recordou que o partido já apresentou propostas no parlamento para que “todas estas promessas sejam cumpridas”.

“E cá estaremos para pressionar o PSD a cumprir aquilo que disse na campanha eleitoral”, sublinhou.

O que diz a carta?

O primeiro-ministro confirmou ter recebido a carta do secretário-geral do PS, a que dará, “naturalmente, resposta”, segundo fonte do gabinete de Luís Montenegro.

“A carta foi recebida e terá, naturalmente, resposta”, disse à Lusa fonte do gabinete do primeiro-ministro.

O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, escreveu hoje ao primeiro-ministro, disponibilizando-se para negociar um acordo que, em 60 dias, resolva a situação de certos grupos profissionais da administração pública, uma carta à qual a agência Lusa teve acesso.

Em 19 de março, após uma audição com o Presidente da República em Belém, Pedro Nuno Santos tinha-se manifestado disponível para viabilizar um Orçamento retificativo da AD limitado a “matérias de consenso”, referindo-se à valorização das grelhas salariais destes grupos profissionais da administração pública até ao início do verão.

Um dia depois, questionado sobre este desafio, Luís Montenegro disse ter registado “com satisfação o sentido de responsabilidade” da comunicação feita pelo secretário-geral do PS, mas escusou-se a responder se estaria disponível para negociar uma viabilização de um eventual Orçamento Retificativo.