Durante uma intervenção na reunião da Câmara Municipal de Lisboa, o vereador socialista Pedro Anastácio acusou o presidente da autarquia, Carlos Moedas (PSD), de se ter “ajoelhado perante o Governo” e feito “um frete” no processo que levou à exoneração da provedora da Santa Casa de Lisboa demissionária.

“A forma como a senhora vereadora [Sofia Athayde] e o senhor presidente se prestaram a fazer um comunicado apontando a falta de capacidade de resposta na área social da Santa Casa da Misericórdia diz muito como o senhor presidente encara o interesse municipal”, afirmou o vereador socialista, que não tem pelouros atribuídos.

Pedro Anastácio lembrou também que foi a administração demissionária da SCML que “denunciou os erros de gestão da administração anterior e que lançou uma auditoria para os apurar”, remetendo as conclusões para o Ministério Público.

“Há um ano dizia o senhor presidente que a relação entre a Santa Casa e a Câmara de Lisboa era excelente. Portanto, foi com estupefação que ouvi ontem [terça-feira] o senhor presidente dizer na Assembleia Municipal que vem denunciando há cerca de dois anos aquela que é a resposta social na Santa Casa”, apontou.

Em resposta, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa remeteu para o Governo a responsabilidade de exonerar Ana Jorge, admitindo, contudo, a existência de lacunas na gestão da administração demissionária da SCML.

“Essa é uma decisão do Governo. Não sou eu que vou comentar a decisão do Governo. Na última reunião privada que tivemos com a senhora provedora aquilo que sentimos foi que houve uma diminuição na parte da ajuda social. Eu fiz tudo aquilo que podia para que isso não acontecesse, referindo publicamente o papel da Santa Casa da Misericórdia e incentivando-a”, afirmou o autarca.

Já na terça-feira, durante a Assembleia Municipal de Lisboa, o deputado Miguel Coelho (PS) tinha acusado o presidente da Câmara de Lisboa de branquear o “saneamento político” da mesa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, demitida pela ministra do Trabalho sob a acusação de inação.

O também presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, que falava após Carlos Moedas discursar acerca da informação escrita sobre a atividade do executivo, lembrou anteriores reconduções por governos socialistas, como a de Pedro Santana Lopes (PSD), ao contrário do executivo de Luís Montenegro (PSD/CDS-PP/PPM).

O deputado anunciou que a bancada socialista irá chamar à 6.ª comissão permanente da AML, de Direitos Humanos e Sociais, Cidadania e Transparência e Combate à Corrupção, a vereadora da Ação Social na Câmara de Lisboa “para explicar o que falhou na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa nos apoios sociais”.

Também na terça-feira, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social acusou a provedora exonerada da Santa Casa de “total inação”, a administração de se beneficiar a si própria e rejeitou a ideia de “saneamento político” na exoneração.

Em entrevista à RTP, a ministra Maria do Rosário Ramalho afirmou ter “uma fundamentação muito sólida” para a decisão de exonerar a provedora da SCML, assim como a restante mesa (administração) da instituição.

Já hoje, em resposta, Ana Jorge negou as acusações da ministra do Trabalho de que os administradores da instituição se teriam “beneficiado a si próprios”, defendendo ser preciso justificar essa declaração.

Ana Jorge tomou posse em 02 de maio de 2023, escolhida pelo anterior Governo socialista de António Costa, e herdou uma instituição com graves dificuldades financeiras, depois dos anos de pandemia e de um processo de internacionalização dos jogos sociais, levado a cabo pela administração do provedor Edmundo Martinho, que poderá ter causado prejuízos na ordem dos 50 milhões de euros.

Depois da sua exoneração, no dia 20 de abril, a provedora escreveu uma carta a todos os trabalhadores da SCML, na qual acusou o Governo de a ter exonerado de “forma rude, sobranceira e caluniosa” e que foi apanhada de surpresa.

A mesa da SCML demissionária é composta por Ana Jorge (provedora), Ana Vitória Azevedo (vice-provedora) e Nuno Miguel Alves, Teresa do Passo, Sérgio Cintra, e João Correia (vogais).