As farmácias vão administrar pela primeira vez este ano a vacina contra a covid-19, que será dada em simultâneo com a vacina da gripe a quem assim o entender.

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) estima que uma elevada taxa de adesão à vacina da covid-19 das pessoas com mais de 60 anos pode prevenir entre 21% e 32% de hospitalizações.

Assim, a “primeira prioridade” na campanha de vacinação que arranca hoje é imunizar logo no início o maior número possível de pessoas de “grande risco”, já que a covid-19 não vai desaparecer, apontou o epidemiologista Manuel Carmo Gomes. “Não vale a pena ter ilusões de que vamos conseguir interromper a circulação do vírus”.

Contas feitas, a expectativa é conseguir vacinar entre 2 e 2,5 milhões de pessoas, segundo o subdiretor-geral da Saúde, André Peralta Santos.

Já declarações à agência Lusa, a presidente da Associação de Farmácias de Portugal, Manuela Pacheco, afirmou que está “tudo pronto” e que a adesão por parte dos utentes tem sido “muito grande”. “Não é por falta de acesso que os portugueses não se vão vacinar”, garantiu.

Entretanto, a Direção-Geral da Saúde já admitiu que a abertura da vacinação sazonal a faixas etárias inferiores aos 60 anos pode ser considerada, desde que não prejudique a dos grupos de maior risco.

Neste momento, quem pode ser vacinado? Onde são administradas as vacinas? É preciso marcar? Veja aqui a resposta a todas estas questões.

Quem é elegível para a vacinação?

Vacinação sazonal de reforço contra a covid-19:

  • profissionais e residentes/utentes em estruturas residenciais para pessoas idosas (ERPI), instituições similares, Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) e estabelecimentos prisionais;
  • pessoas com 60 anos ou mais;
  • pessoas entre os 5 e os 59 anos com patologias de risco;
  • grávidas; profissionais dos serviços de saúde (públicos e privados) e de outros serviços prestadores de cuidados de saúde;
  • estudantes em estágio clínico;
  • bombeiros envolvidos no transporte de doentes e prestadores de cuidados a pessoas dependentes.

Patologias de risco consideradas para vacinar os menores de 60 anos:

  • neoplasias malignas ativas;
  • transplantação;
  • infeção por VIH;
  • doenças neurológicas;
  • doenças mentais;
  • doença hepática crónica;
  • diabetes;
  • obesidade;
  • doenças inflamatórias/autoimunes sistémicas crónicas;
  • pessoas sob terapêutica crónica com medicamentos biológicos;
  • doença cardiovascular (insuficiência cardíaca, miocardiopatias, hipertensão pulmonar e doença coronária/enfarte agudo do miocárdio);
  • doenças renal crónica, pulmonar crónica e outras como, por exemplo, a trissomia 21.

Crianças:

  • vacinação primária das crianças entre os 6 meses e os 4 anos com patologias de risco, com a vacina Comirnaty 3µg adaptada à época outono-inverno 2023-2024.

Quem não está nestes grupos também pode ser vacinado?

Na norma publicada, a DGS indica que todos aqueles que não sejam elegíveis para reforço sazonal contra a covid-19, ou que não tenham o esquema vacinal recomendado atualizado (esquema vacinal primário ou reforço) devem atualizá-lo na primeira oportunidade de vacinação.

Quando e onde é que as pessoas podem ser vacinadas?

  • Quando:
    • a vacinação terá início em 29 de setembro.
  • Onde:
    • nas farmácias comunitárias, para as pessoas com 60 ou mais anos;
    • nos estabelecimentos de saúde do Serviço Nacional de Saúde (SNS), para as pessoas com menos de 60 anos e com doenças de risco.

A norma define que as farmácias comunitárias vacinarão as pessoas com 60, ou mais, anos de idade que tenham já levado anteriormente uma vacina de tecnologia mRNA Comirnaty ou Spikevax (comercializada pela Moderna), e não tenham história de reação de hipersensibilidade ou reações adversas graves após vacinação anterior.

  • Como é feito o agendamento nas farmácias?

O agendamento da vacinação é feito através do site das Farmácias Portuguesas. Através de um formulário, o utente pode escolher o tipo de vacinação que pretende (covid e/ou gripe), bem como o distrito e o concelho.

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Após preencher os campos surgem as farmácias disponíveis para o efeito, bem como os dias e horas disponíveis. Após selecionar a marcação pretendida, o utente terá de preencher os seus dados pessoais para dar seguimento ao processo.

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E fica o alerta: há concelhos que ainda não têm esta funcionalidade de marcação da vacina disponível, pelo que esta terá de ser administrada no local mais próximo. Nesta lista pode ver quais as farmácias comunitárias aderentes à Campanha de Vacinação Sazonal do outono-inverno 2023-2024.

Apesar de o sistema de marcação online ser o mais referido, cada utente pode dirigir-se à sua farmácia para fazer diretamente a marcação, desde que esta esteja habilitada a administrar as vacinas, confirmou fonte das Farmácias Portuguesas ao SAPO24. Seja qual for a forma de marcação, o utente receberá um SMS 24 horas antes do dia escolhido para relembrar o horário e a farmácia a que se deve dirigir.

Nos estabelecimentos de saúde do SNS será feita a vacinação das pessoas com menos de 60 anos com patologias de risco, das grávidas e dos profissionais dos serviços de saúde (públicos e privados) e de outros serviços prestadores de cuidados de saúde, estudantes em estágio clínico, bombeiros envolvidos no transporte de doentes, e prestadores de cuidados a pessoas dependentes.  Haverá ainda vacinação nos lares, na rede de cuidados continuados integrados e nas prisões.

A norma da DGS indica ainda que serão os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) a identificar as pessoas a vacinar no SNS e que a vacinação ocorrerá em paralelo, por critério de idade, nas farmácias comunitárias, e, por critério de patologias de risco, nas unidades de saúde do SNS.

E quem não é seguido pelo SNS?

No caso das pessoas com patologias de risco que não sejam seguidas no SNS, a norma indica que os médicos assistentes devem emitir uma declaração médica da elegibilidade para vacinação. Esta declaração é emitida eletronicamente através da Plataforma de Prescrição Eletrónica de Medicamentos, de acordo com um formulário disponibilizado pelos SPMS.

Há vacinas suficientes em Portugal?

Segundo avançado pelo Jornal de Notícias na semana passada, as vacinas que vão chegar às farmácias nos primeiros dias da campanha de vacinação não serão suficientes para dar resposta às reservas já feitas pelos utentes.

Mas o bastonário da Ordem dos Enfermeiros (OF), Hélder Mota Filipe, garantiu o contrário ao SAPO24. "Portugal comprou vacinas suficientes para cobrir todas as necessidades vacinais dos diversos grupos populacionais com indicação para vacinação", disse em resposta enviada por e-mail.

Embora a aquisição de vacinas e a sua distribuição pelas farmácias aderentes seja da responsabilidade do Ministério da Saúde, "através do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais (SUCH)", o bastonário da OF assegura que "os farmacêuticos estão preparados para dar resposta ao aumento da cobertura vacinal", disse, acrescentando ser já "prática regular nas farmácias há quase duas décadas".

O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos lembra que nos últimos vinte anos, "milhões de cidadãos têm sido vacinados nas farmácias portuguesas para as mais diversas doenças — gripe, hepatites, pneumocócica, meningite, vírus papiloma humano, entre muitas outras".

De recordar também que o Governo autorizou a realização de despesa até 222,32 milhões de euros para aquisição de vacinas contra a covid-19 até 2026, através do procedimento europeu centralizado, segundo anunciado a semana passada.

O que diz a OMS sobre a vacinação?

Segundo a líder técnica da resposta à covid-19, na OMS, Maria Van Kerkhove, "ainda há uma grande brecha na cobertura de reforço", uma vez que "apenas 58% da população mundial tem uma dose de reforço". A percentagem baixa para 30% no Sudeste Asiático e 8% em África.

Maria Van Kerkhove frisou que os idosos "são grupos de idade críticos" que necessitam das doses de reforço para "prevenir a doença grave e a morte", salientando que em vários países da América e da Europa estão a aumentar as hospitalizações e os internamentos em unidades de cuidados intensivos.

"O vírus está a evoluir, a mudar. Continuamos a monitorizar as variantes em circulação", afirmou Maria Van Kerkhove, realçando que a variante EG.5, uma mutação da variante Ómicron do SARS-CoV-2, representa "cerca de 39%" das sequências genéticas feitas globalmente ao coronavírus.

*Com Lusa