"Dou-lhes um exemplo: a Itália e a Alemanha eram como nós. Contudo, Adolf Hitler visitou o norte da Itália e [Benito] Mussolini mostrou-lhe uma autoestrada construída de Milão a Bréscia", disse Torres, primeiro-ministro e braço direito do presidente Pedro Castillo.

"Hitler viu aquilo, voltou ao seu país, encheu-o de autoestradas e aeroportos e transformou a Alemanha na maior potência económica do mundo", acrescentou Torres, durante uma sessão pública do gabinete nesta quinta na cidade andina de Huancayo, que depois contou com a presença de Castillo.

De imediato, as suas palavras geraram a reprovação de políticos opositores e do próprio Governo, além da embaixada da Alemanha em Lima.

"Hitler foi um ditador fascista e genocida, em cujo nome foi travada, a partir da Alemanha, a pior guerra de todos os tempos, e se cometeu o genocídio de seis milhões de judeus. Perante desse cenário, Hitler não é referência como exemplo em nada", disse a missão diplomática alemã na sua página no Facebook.

A embaixada de Israel informou que os regimes de Mussolini e Hitler não são exemplo nem de prosperidade, nem de progresso. "Lamentamos que o discurso político peruano inclua referências como Hitler e Mussolini como exemplo de prosperidade. Regimes de morte e terror não podem ser uma demonstração de progresso", partilhou na sua conta no Twitter.

Horas depois, no encerramento da sessão do gabinete e na presença de Castillo, Torres disse: "Ao senhor embaixador de Israel, se o ofendi peço desculpas e vamos conversar pessoalmente". "Se demos como exemplo do progresso da Alemanha nas vias de comunicação é um facto real. Isso não quer dizer que Adolf Hitler não seja considerado um grande criminoso", acrescentou.

A chefe do Congresso peruano, a opositora María del Carmen Alva, escreveu no Twitter que "o que foi dito pelo primeiro-ministro Aníbal Torres, elogiando o genocida Hitler, ofendeu milhares de peruanos".

"Uma vergonha que o primeiro-ministro Aníbal Torres dê como exemplo um fascista e genocida como Hitler, agora entendemos de onde provêm as medidas erróneas [do governo] como o frustrado recolhimento obrigatório" diurno decretado em Lima na terça-feira, disse o legislador Alex Flores, parte do partido do Governo, na mesma rede social.

Hitler iniciou a construção de autoestradas em 1933. Apesar de não ter se tratado de uma ideia original, já que na própria Alemanha outras rodovias foram construídas antes, os nazis deram destaque às mesmas na sua propaganda como um símbolo da grandeza do Terceiro Reich.

Quase 4.000 quilómetros de "Autobahnen" ("autoestradas", em alemão) foram construídos até que as obras foram paralisadas em 1941 por causa da Segunda Guerra Mundial.

"Teríamos preferido que não fizesse se referência aos méritos de estadista de Hitler. É um desatino que ofende os seis milhões de vítimas do genocídio judaico", disse o apresentador matinal da rádio e televisão RPP, Fernando Cavallo.

Esta não é a primeira vez que Torres, um advogado de 79 anos, menciona Hitler. Em março, ele comparou o ex-presidente Alberto Fujimori, que está preso, com o líder nazi, ao afirmar que "ninguém é julgado pelas suas obras boas, mas pelas más".