“O desfecho do caso lembra-nos que temos muita margem de manobra para nos defendermos, para nos manifestarmos, para nos expressarmos. É um dever de serviço à terra e à vida e claro que vai haver muito mais manifestações, a menos que, finalmente, haja uma mudança de rumo em que estes crimes ambientais cessem”, afirmou o ativista, de 35 anos, à saída do Tribunal Local Criminal de Lisboa.

Em declarações aos jornalistas, Francisco Pedro – também conhecido por “Kiko” – admitiu que a “absolvição era esperada”, mas preferiu focar as suas atenções no projeto do novo aeroporto no Montijo: “O grande alívio para todos nós vai ser quando o Governo finalmente anunciar o cancelamento deste projeto”.

A juíza Sofia Claudino considerou não ter ficado provado em julgamento que Francisco Pedro seria o organizador do protesto. Questionado sobre as razões para ter avançado para o palco no protesto realizado numa cerimónia do Partido Socialista, em Lisboa, o ativista respondeu com outra pergunta.

“Por que não dar um passo em frente quando há um crime tão grave à frente dos nossos olhos?”, indagou, sem deixar de considerar que o processo que se seguiu - no qual o Ministério Público pediu a sua condenação através de multa – resultou de uma estratégia empresarial.

“É bastante comum grandes empresas terem esta estratégia de intimidar ativistas e quem denuncia crimes”, resumiu Francisco Pedro, que atirou ainda críticas à indústria da aviação e ao seu impacto a nível ambiental.

Em 2019, Francisco Pedro tentou chegar ao microfone para tomar a palavra e contestar a expansão do aeroporto de Lisboa e a construção de um novo no Montijo, com a acusação a argumentar que se tratava de uma manifestação organizada e não autorizada pela Câmara de Lisboa. Por sua vez, o ativista defendeu logo no arranque do julgamento ter sido apenas uma “ação espontânea” de liberdade de expressão e para denúncia de um crime.

Na altura, em menos de meio minuto, os jovens foram retirados do palco e António Costa prosseguiu o seu discurso. De forma inesperada e durante a cerimónia, os ativistas do coletivo ATERRA aproximaram-se do palco e lançaram aviões de papel, mostrando também um cartaz onde se lia "Mais aviões só a brincar".