Numa conferência de imprensa sobre aquela que já é considerada uma das “bandeiras” das propostas anunciadas pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, no seu último discurso sobre o “Estado da União”, na quarta-feira passada perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo, a chefe de diplomacia da UE sublinhou hoje em Bruxelas que a ideia é aprofundar ainda mais uma parceria que já mudou de paradigma nos últimos anos, mas que ainda tem espaço para progredir, sobretudo no plano comercial e de investimentos.

“Lembrar-se-ão que quando começámos o nosso mandato, há quatro anos, dissemos que já não era suficiente trabalhar apenas para África, e que queríamos mudar de paradigma e começar a trabalhar com África. Nestes últimos quatro anos temos construído passo a passo uma parceria diferente com África, uma parceria de iguais”, começou por referir.

Considerando então que já foi, “de certa forma, virada a página, mudando da tradicional parceria do género doador-recetor, baseada na ajuda ao desenvolvimento e na ajuda humanitária, para uma parceria mais política, centrada na paz e segurança, e também económica”, Mogherini declarou que “agora é dado um novo passo, com o lançamento desta aliança África-Europa para investimentos e empregos sustentáveis”.

“E esta vai ser uma grande prioridade no ano de trabalho que temos pela frente”, garantiu.

A Alta-Representante e vice-presidente da Comissão sublinhou que “a ajuda ao desenvolvimento manter-se-á”, mas será dado um novo impulso às relações comerciais, económicas e de investimento, incluindo no setor privado.

Mogherini fez questão de reiterar que se trata de reforçar uma parceira que já é muito forte, a mais forte que África tem com o resto do mundo, desmistificando o alegado peso que a China tem vindo a ganhar no continente africano.

“Oiço muito falar sobre a presença da China em África, mas, para terem uma ideia, o comércio de África com a UE representa 36%, com a China é 16%, e enquanto o investimento direto estrangeiro da UE em África é 40%, o da China é 5%. Acho bom por isso que tenhamos noção do quão forte já é a nossa parceria. O que propomos agora é passá-la a um nível ainda elevado”, declarou.

Uma das vertentes da nova aliança, que disse ser-lhe particularmente próxima do seu coração e do trabalho que tem desenvolvido à frente do Serviço Europeu de Ação Externa, é a do “investimento na geração jovem do continente, que por vezes é vista com uma bomba-relógio, quando é, na verdade, a maior oportunidade para o crescimento do continente”.

Mogherini disse já ter contactado com muito jovens empreendedores e jovens mulheres que estudam para ser empresárias, que “querem arduamente trabalhar para o desenvolvimento económico de África”.

“Não são um fardo, são a energia do continente. O que lhes falta por vezes é acesso a formação e meios financeiros”, apontou, acrescentando que “é por isso que este pacote propõe instrumentos” para facilitar a sua educação, como um esquema Erasmus para África com mais fundos e mais bolsas, estando previsto que 100 mil estudantes africanos possam beneficiar do programa “Erasmus+” ao longo dos próximos 10 anos.

A terminar, a Alta-Representante da UE deixou também um apelo aos Estados-membros da UE, no sentido de “serem coerentes”: “quando dizem que África é uma prioridade e pedem-nos que coloquemos orçamento da UE nessa parceria, também têm que acrescentar orçamento nacional”, tal como se comprometeram.

A proposta de uma nova “Aliança África-Europa” foi apresentada por Juncker na passada quarta-feira, tendo o presidente da Comissão declarado na ocasião que ““África não necessita de caridade, precisa sim de uma verdadeira parceria equilibrada”, que também é do interesse dos europeus.

Juncker apontou que se trata de uma aliança centrada nos investimentos e empregos sustentáveis e, tal como a concebe, permitiria criar “até 10 milhões de empregos em África ao longo dos próximos cinco anos”.

A ideia passa por “criar um quadro que permita atrair investimento privado em África” e, nessa matéria, sublinhou, não se parte do zero, já que o fundo de investimento externo da União Europeia, lançado em 2016, “mobilizará mais de 44 mil milhões de euros de investimentos nos setores público e privado em África”.

A outra vertente central da nova aliança será o comércio, com Juncker a apontar que 36% do comércio de África já se faz com a Europa, mas as trocas comerciais entre os dois continentes são insuficientes.